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Durante minhas aulas ou apresentações, é comum ter que explicar os vieses das finanças comportamentais. Um dos mais desafiadores de abordar é o viés de resultado, porque ele frequentemente não é reconhecido como um viés, especialmente quando o resultado final mascara o processo.

Para esclarecer, uso uma analogia simples: a Mega-Sena da Virada. Imagine que um amigo te pergunta se vale a pena apostar. Você pondera, explicando que, embora as chances sejam mínimas, apostar pequenas quantias pode ser inofensivo, desde que seja por diversão. Mas aí ele surpreende: decidiu vender a própria casa e hipotecar a do pai para apostar tudo. Ele te pergunta: “Essa é uma boa estratégia?” É claro que qualquer pessoa com senso crítico diria que não. É uma decisão financeiramente imprudente, com riscos desproporcionais e potencialmente devastadores.

Porém, dias depois, ele ganha. A alegria dele é contagiante, e você o parabeniza. Mas será que o fato de ter vencido transforma sua estratégia em uma boa ideia? Não. A vitória foi sorte, e a estratégia permaneceu péssima. É exatamente isso que o viés de resultado representa: medir a qualidade de uma decisão apenas pelo desfecho, ignorando o processo ou os riscos envolvidos.

Investir não é apostar na Mega-Sena

Na prática, esse viés traz muitos riscos, principalmente no mundo dos investimentos. É comum que investidores desprezem conceitos fundamentais como diversificação, visão de longo prazo e gerenciamento de riscos porque se deixam levar por histórias de ganhos rápidos. Muitos acabam buscando o “ativo milagroso” que os tornará ricos de forma instantânea, como um bilhete premiado. Mas investir não é loteria.

A diferença entre sorte e estratégia

Ganhar na loteria depende exclusivamente da sorte, enquanto o sucesso nos investimentos está ancorado em análises bem fundamentadas e planejamento estratégico. No exemplo do amigo, a vitória veio do acaso, não de um processo sólido. No mercado financeiro, basear decisões apenas na expectativa de um grande golpe de sorte é uma receita para o fracasso.

Tanto na loteria quanto nos investimentos, entender os riscos é essencial. Vender todos os bens para apostar na Mega-Sena é uma estratégia temerária porque ignora o risco de perda total. No mercado financeiro, ignorar riscos — como concentração em um único ativo ou setor — pode levar a consequências igualmente devastadoras.

O valor do longo prazo

Muitas pessoas se empolgam com histórias de ganhos rápidos, mas a verdadeira construção de riqueza ocorre ao longo do tempo. Investimentos consistentes, reinvestimento de dividendos e paciência são os pilares de uma estratégia bem-sucedida. O “bilhete premiado” nos investimentos não é um ativo específico, mas o compromisso com o longo prazo.

A lição é clara: o sucesso nos investimentos está muito mais relacionado a decisões estratégicas, diversificação e visão de longo prazo do que a qualquer “golpe de sorte”. O viés de resultado pode nos cegar para esses princípios fundamentais, levando-nos a conclusões erradas sobre estratégias vencedoras.

Assim, para aqueles que ainda veem os investimentos como um jogo de loteria, vale lembrar: a sorte pode até ter seu papel, mas é a estratégia que constrói fortunas.

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