A Venezuela vai às urnas neste domingo (28) para definir quem será seu presidente nos próximos seis anos, em uma das mais tensas e incertas eleições de sua longa e turbulenta história.
A disputa, em turno único, se concentra entre o presidente Nicolás Maduro e o diplomata aposentado, Edmundo González, que nunca disputou uma eleição. Ele substitui a inelegível — mas ainda a principal líder da oposição — María Corina Machado.
Não se espera nenhum tipo de divulgação de resultados para antes da madrugada de segunda-feira (29) no Brasil. A realização de pesquisas de boca de urna é proibida pela legislação eleitoral.
A maior parte das pesquisas sugere que a votação deve pôr fim ao regime chavista. Foi herdado por Maduro do tenente-coronel Hugo Chávez em 2013, após a morte dele —, que está no poder há 25 anos.
Problemas da eleição na Venezuela
Mas o histórico de erros em eleições anteriores e a pressão psicológica sobre os eleitores. Além do uso escancarado da máquina pública e a posição de vantagem do governo na desequilibrada divulgação da propaganda eleitoral. Isso, entre uma série de outros fatores, tornam a disputa imprevisível.
Na realidade, os cerca de 30 milhões de venezuelanos não só não têm certeza sobre quem será o ganhador no domingo. Também têm dúvidas sobre se a eleição de fato será realizada e validada. E se o governo aceitará uma derrota nas urnas. Além de qual será a reação dos opositores nas ruas — caso sejam declarados perdedores, seja legitimamente ou por vícios e fraudes.
Outra fonte de tensão potencial também é o longo período entre a eleição e a posse do presidente eleito — que se dará apenas em 10 de janeiro de 2025.
Pesquisa mostra oposição na frente
Em pesquisa divulgada no último sábado — quando se encerrou o prazo para divulgação de material eleitoral — a consultoria ClearPath mostrava González com 59% das intenções de voto contra 31% de Maduro. Já a firma de pesquisas econômicas Poder y Estrategia mostrou o candidato da oposição liderando por 43 pontos percentuais.
Mas, o Centro de Medição e Interpretação de Dados Estatísticos (Cmide, na sigla em espanhol), indica que Maduro deve se reeleger para um terceiro mandato.
Votos da oposição na Venezuela
A discrepância entre pesquisas pode ser explicada por uma tendência recente de supervalorizar o total de votos da oposição, segundo levantamento feito pelo economista Fernando Rodríguez, professor da Universidade de Denver e fundador do centro de estudos Oil for Venezuela.
“Entre 2004 e 2014, no entanto, os erros a favor do governo em alguns anos eram compensados por erros a favor da oposição em outros. A partir de 2015, esses erros se tornaram sistemáticos e, em média, houve uma superestimação [de votos] a favor da oposição de 29,5 pontos percentuais”, disse Rodríguez ao divulgar trechos de sua pesquisa nas redes sociais.
“Foi criada uma ideia que qualquer vitória de Maduro será uma simples fraude e isso não é verdade”, afirma o economista Luis Vicente León, um dos principais analistas da Venezuela e sócio da consultoria Datanálisis, de Caracas. “Muitas condições podem alterar as pesquisas. A capacidade de mobilização do governo não se vê em pesquisa, eles têm uma máquina partidária mais efetiva”.
Nicolás Maduro
Nicolás Maduro, um ex-motorista de ônibus e dirigente sindical, está no poder desde a morte de seu mentor e antecessor Hugo Chávez em 2013.
Nesses 11 anos poder, no entanto, Maduro perdeu a popularidade herdada após presidir o colapso da economia da Venezuela, que se contraiu em cerca de 80%, enquanto a importante produção de petróleo do país despencou. O outrora potente setor energético virou sucata. O governo entrou em default. As sanções econômicas dos EUA fizeram do país um pária para os bancos.
Inflação na Venezuela
A grave crise econômica levou a Venezuela a uma das maiores inflações do planeta até 2018, quando se estimou o índice em 65.000%. O empobrecimento da população, a falta de oportunidades de trabalho e a perseguição do regime chavista levaram ao êxodo de cerca de 25% dos venezuelanos. Problemas que Maduro atribui às sanções econômicas impostas pelos EUA.
Nos últimos anos, depois de atingir seu pico em 2018, a inflação foi gradualmente desacelerando, caindo para cerca de 50% ao ano, como resultado das medidas do governo de restrição ao crédito, manutenção da taxa cambial em um nível relativamente estável e de controle os gastos públicos. Este ano, por exemplo, o governo Maduro não promoveu significativos reajustes salariais aos funcionários públicos.
Apesar da inflação mais baixa, muitos venezuelanos ainda lutam para sobreviver em meio ao elevado desemprego e salários defasados, insuficientes para garantir o sustento até o fim do mês.
Apesar de altamente impopular nas pesquisas, o presidente detém todos os instrumento do poder, dos tribunais aos militares. À medida que a crise econômica se aprofundava ele buscou a ajuda da Rússia, Cuba, Irã e China para se manter no poder. Agora, afirma que está recuperando a economia e que só ele é capaz de reviver a Venezuela.
Diálogo nacional
Durante a campanha, Maduro prometeu um “grande diálogo nacional” com todos os atores políticos e econômicos. Porém, alertou que haverá um banho de sangue, como ele disse, se perder a votação.
“Sou um homem de palavra, um cara confiável”, ele disse durante uma visita por uma unidade da Chevron, promovendo 10 novos acordos que seu governo assinou com investidores, sem nomeá-los.
Um fator que preocupa a oposição e pode pesar a favor do governo neste domingo (28) são as restrições impostas por Caracas para a votação de cidadãos venezuelanos no exterior, número estimado atualmente em 4,5 milhões.
Eleitores têm dificuldades
Fontes venezuelanas acusam o governo de dificultar e até mesmo impedir que cidadãos do país que vivem no exterior consigam votar ao impor exigências difíceis. Também acusam Caracas de dificultar que novos eleitores consigam obter os documentos que os habilitaram votar.
María Corina Machado, engenheira e professora, originária de uma das famílias mais ricas da Venezuela, é a líder “de facto” do movimento de oposição venezuelano e venceu as primárias auto-organizadas pela coligação Plataforma Democrática Unitária, que foi considerada ilegal pela Justiça do país.
González, de 74 anos, substituto dela na cédula, é considerado um nome moderado. Embaixador na Argélia e depois na Argentina, González deixou o governo em 2002. Desde então, ele trabalhou em centros de estudos especializados em política externa, com um curto período, há uma década, como elemento de ligação internacional da oposição.
Com informações do Valor Econômico