Muito tem se falado a respeito do Flamengo construir seu estádio próprio, e deixar de jogar no Maracanã. Na coluna dessa semana vamos tratar desse assunto, tentando abordar ideias para que o projeto seja factível.

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Factível e que não destrua as finanças do clube. Hoje, o Flamengo opera em equilíbrio financeiro exemplar, melhor que a grande maioria dos clubes europeus, inclusive. O futebol é uma atividade em que é fácil o gestor perder a mão e extrapolar gastos, e muito difícil de se manter a linha do controle financeiro.

10 clubes europeus mais equilibrados

O site Off the Pitch, uma das boas referências em termos de análises e debates sobre negócios do futebol, apresentou recentemente um quadro com os 10 clubes mais equilibrados do futebol europeu, segundo seus critérios. Algo parecido com o Rating Convocados, que apresentei no Relatório Convocados / Galapagos Capital 2024.

O cálculo do site considera a Margem EBITDA, o Retorno sobre Ativos e Equity Ratio, que é uma medida de estrutura de capitais.

Os 10 primeiros clubes da lista são:

CLUBE PAÍS NOTA
Bodo/Glimt Noruega 29,5
Molde Noruega 25,1
Manchester City Inglaterra 21,2
Fiorentina Itália 20,8
Silkeborg Dinamarca 19,2
Atalanta Itália 18,9
Djugaarden Suécia 17,9
AGF-Aarhus Dinamarca 17,7
Napoli Itália 17,5
Brann Noruega 16,3
fonte: Off the Pitch,

Flamengo e seu estádio

O que a tabela acima tem a ver com o Flamengo e seu estádio? Muito.

Na lista de equilíbrio e robustez financeira, temos apenas um clube de grande porte, que é o Manchester City e 3 clubes de porte médio na Europa – e, supreendentemente, italianos – cada qual com sua característica, mas todos bem geridos, e dois deles – Fiorentina e Napoli – que já faliram. No mais, são clubes nórdicos e com poucas aspirações continentais.

O que o Flamengo faz sendo um clube popular e que precisa conquistar títulos é algo que deve ser sempre ressaltado, assim como o Palmeiras.

Os torcedores de outros clubes reclamarão, eu sei, mas é o que é.

Flamengo teria dinheiro para ter um estádio?

Essa força financeira do Flamengo permite que ele planeje a construção de um estádio próprio, que tende a ser muito mais interessante que o Maracanã, e elenco alguns motivos.

O Maracanã é uma concessão e isto gera um eterno risco legal – no Brasil, até o passado é incerto. Isso custa caro, e o Estado obriga uma série de benefícios e gratuidades, que não tem uma distribuição de assentos que permita a gestão eficiente do preço dos ingressos. Pela demanda atual, tem entre 15 mil e 20 mil lugares a menos do que o clube poderia ocupar.

Além de dividir o Maracanã com o Fluminense, o que impacta na qualidade do gramado.

Quanto custaria um estádio para 80 mil pessoas, considerando custos de terreno, e tudo mais? Não tenho ideia. Mas podemos fazer alguns exercícios a partir do fluxo de caixa de 2023.

Geração de caixa do Flamengo

O Flamengo tem geração de caixa que é maior que a receita de 15 clubes da Série A.

Mesmo com as necessidades de capital de giro, ainda sobra dinheiro, que é utilizado para pagar as dívidas parceladas, e cada vez menores, e essencialmente para contratar atletas.

Em 2023 foram R$ 279,6 milhões, que permitem elencos sempre fortes e competitivos. Aqui está a possibilidade de investimento no estádio. É a partir desse valor que a conta precisa ser feita.

O Flamengo faz R$ 260 milhões com receitas de Bilheteria e Sócio Torcedor. Se aumentar em 30% o valor, são mais R$ 78 milhões. Se reduzir o investimento em contratações pela metade, temos mais R$ 140 milhões, o que dá um total de R$ 218 milhões disponíveis para bancar qualquer financiamento.

Mas vamos lembrar que o Brasil é um país que não dispõe de fontes estruturadas e com custo aceitável para obras dessa magnitude. Mas, ter R$ 218 milhões disponíveis não é pouca coisa. Só que tem efeitos colaterais.

Contratações e competitividade

Reduzir contratações pode impactar a competitividade. O Flamengo não tem sido um exemplo de gestão esportiva, e com menos dinheiro aumentaria a necessidade de ser mais eficiente. Temos um risco aí, que pode ser superado, mas é um risco.

Soluções? Além de melhorar a gestão esportiva, buscar um parceiro para dividir o risco. Pode ser um investidor privado, um fundo imobiliário, alguém que entre parte com capital e reduzisse a dívida, sem que o Flamengo precisasse abrir mão de investimentos no elenco para bancar o estádio.

O que o Flamengo ganharia tendo um estádio?

Mas qual a contrapartida do clube? Receitas!

Além do potencial e receitas satélites que os estádios mais novos permitem, como lojas, restaurantes, museu, o clube ainda é capaz de gerar mais de R$ 250 milhões de movimento direto de bilheteria.

Isso seria potencializado com programas eficientes de relacionamento, ou o suficiente para entregar para o parceiro valores acima de R$ 300 milhões anuais.

Nem há necessidade de shows e usos fora do futebol. Muito menos criar SAF para entregar algo além do ativo imobilizado.

O caso da Neoquímica

Se é tão simples, o que acontece com a Neoquímica Arena?

Excesso de dívida, com um custo de construção incompatível com a capacidade de geração de receitas, e um clube que entrou nesse processo já numa fase de endividamento crescente.

O balanço do Corinthians na época não estava preparado para absorver a operação da arena. Simples assim. E com juros incompatíveis, o resultado é o que vemos.

Estádio do Flamengo é factível

Enfim, de maneira simplória é possível concluir que a operação de construção de um estádio próprio pelo Flamengo é factível.

Claro que há riscos, mas que se mapeados corretamente e com soluções endereçadas de forma justa, pode ser mais um golaço do clube.

O rio corre para o mar.

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