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Em sua sabatina no Senado, Gabriel Galípolo citou personalidades de diferentes correntes de pensamento. Desde o começo, o diretor do Banco Central mostrou disposição de se colocar como alguém que considera diferentes visões de mundo. Para isso, citou pessoas cujos nomes provavelmente fossem amigáveis a todos.

A começar por Sérgio Buarque de Holanda. O historiador e sociólogo ficou conhecido por seu conceito sobre o homem cordial, inicialmente mencionado no livro ‘Raízes do Brasil’ (1936). Nesse sentido, ele se dedicou a investigar as origens da sociabilidade brasileira, entre outros assuntos.

Holanda foi muito celebrado, mas também criticado. Supostamente, o historiador teria reduzido o conteúdo violento da formação social brasileira.

“Eu queria agradecer aqui os senadores e senadoras e dizer que essa, essa gratidão, esse sentimento, se me permitem, praticamente de amizade e ao eventual escorregão na liturgia e na formalidade, não se identifica com o conceito magistralmente apresentado e criticado de cordialidade pelo genial Sérgio Buarque de Holanda”, disse Galípolo.

O diretor do BC mencionou ainda que a obra de Holanda teve como um dos seus objetos de estudo “essas questões entre público e privado” ao falar sobre seu ingresso na vida pública.

O conceito de verdade e a expressão de Churchill

Talvez para seguir no papel de homem não tão afeito às formalidades, Galípolo recorreu a uma citação das menos usuais de Winston Churchill – e menos polidas – do político britânico conservador. Churchill é conhecido por seu combate ao nazismo na Segunda Guerra, principalmente enquanto primeiro-ministro.

Galípolo citou Churchill ao falar sobre o processo inflacionário global depois da pandemia.

O diretor do BC disse que o debate girou em torno de alguns pontos centrais. Um deles dava conta que o “processo inflacionário correspondia a um choque de oferta pela desarticulação das cadeias produtivas”.

A outra explicação era relacionada aos gastos sociais. “A questão de (aumento da) demanda decorrente dos programas de transferência de renda e socorro por causa da pandemia”.

Assim, o economista recorreu ao político britânico: “Eu recorro sempre, quando tem esse debate, a uma fala do Churchill: ‘A verdade é uma adúltera, nunca está com uma pessoa só’”.

Keynes como contraponto a Churchill

Mais tarde, Galípolo enfim mencionou alguém próximo da corrente de pensamento que representa mais de perto o governo Lula e sua equipe econômica.

Jonh Maynard Keynes, conhecido por suas políticas anticíclicas para conter crises econômicas severas, foi mencionado exatamente para contestar algumas visões mais conservadoras da economia. Ainda que de maneira discreta e indireta.

“Eu fiz uma citação do Churchill, mas o Churchill, no imediato pós-Primeira Guerra, sofre uma grande crítica do talvez economista mais conhecido e relevante do século XX pela tentativa (do Churchill) de voltar uma apreciação cambial da libra no imediato pós-primeira Guerra Mundial”, disse Galípolo. “Eu estou falando do (John Maynard) Keynes”, completou.

Neste ponto, o diretor do BC deixa claro sua posição mais próxima da de Keynes do que da visão de Churchill. Ele faz isso ao falar sobre o papel da valorização e depreciação do câmbio nas relações econômicas globais.

“Naquele momento (pós-Segunda Guerra), a discussão que estava sendo feita sobre qual composição da FMI e Banco Mundial (…) (permitiria) ter um sistema de compensações e uma arquitetura financeira internacional para que nenhum país sofresse com o problema de transferência de recursos de moeda forte”, mencionou.

“A partir dessa escassez de moeda forte e de divisa internacional, (a proposta é que o país) não ficasse excluído ou marginalizado do comércio internacional ou do sistema financeiro internacional”.

“Muitas vezes os países de baixa renda, que dependem mais da exportação de commodity, podem estar sofrendo ainda mais em função de políticas que não foram eles mesmos que criaram”, arrematou Galípolo.

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