O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu pela manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano na reunião mais recente do colegiado. Com isso, encerra-se, pelo menos por hora, o ciclo de redução de juros iniciado em agosto passado. Então, onde investir com a Selic neste patamar? Veja abaixo o que recomendam os especialistas:
Selic nas rendas fixa e variável
O mercado já esperava amplamente a manutenção dos juros, e muito por conta disso, os ativos de renda variável sofreram nas últimas semanas. Outro ponto que pesou sobre os preços de ações foram as preocupações com o resultado fiscal do governo federal.
“Esses fatores têm impactado as empresas mais expostas ao mercado interno e/ou mais sensíveis a curva de juros. Setores como varejo, imobiliário e serviços têm sido particularmente afetados. Entretanto, muito deste cenário já está precificado no mercado de ações”, explica Isabel Lemos, gestora de renda variável do Fator.
O pessimismo sobre onde investir com Selic a 10,50% ao ano também teve impactos no mercado de renda fixa, que passou a esperar menos cortes da Selic nesse ano (e até uma retomada do ciclo de elevação). Com isso, surgiram opções de títulos prefixados ou indexados à inflação pagando prêmios mais elevados do que antes.
“Isso nos faz questionar se o mercado agora não está pesando muito a mão para um pessimismo”, diz Caio Schettino, head de alocações da Criteria. Na avaliação dele, isso pode representar uma boa oportunidade de acrescentar mais risco às carteiras, seja na renda fixa ou na variável.
“Acompanho bancos centrais mundo afora, e é raríssimo você observar votos unânimes. Inclusive, é muito comum ver dirigentes do Banco Central americano falando coisas completamente contrárias no mesmo dia”, comenta.
No cenário atual, os títulos de renda fixa que têm alguma taxa prefixada (seja os prefixados puros ou aqueles que corrigem a variação da inflação e têm mais uma taxa prefixada) estão ganhando destaque.
“Hoje, você encontra títulos de renda fixa de longo prazo pagando IPCA+7% ao ano, de empresas boas. O Tesouro está pagando IPCA+6,4%”, diz Schettino, que afirma não ter visto taxas assim há anos. “Acho que a renda fixa pode ser uma alternativa para aumentar o risco nas carteiras”.
Segundo ele, os prefixados de vencimento mais curto têm chamado a atenção. “Na renda fixa, voltamos a ver CDBs pagando 14% ao ano. Então a gente voltou a olhar esses prés de curto prazo, é onde a gente acha que está o erro do mercado”, diz.
Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, concorda que há oportunidades em alguns vencimentos prefixados, mas diz que a casa tem aplicado também em renda fixa pós-fixada, atrelada à Selic ou ao CDI, para prazos mais curtos.
Já para prazos perto de cinco anos, ele destaca os títulos indexados à inflação. “Temos oportunidades boas de nível de juros reais”, diz.
Sharon Halpern, sócia e private banker da Blackbird Investimentos, também vê esse tipo de ativo com potencial atualmente. “A gente entrou de forma um pouco mais tática nos ativos ligados à inflação, porque estão com taxas muito atrativas”.
Para os moderados, FIIs são oportunidade
“Para um investidor mais moderado, os fundos imobiliários estão dando uma belíssima janela de entrada, e têm menos volatilidade por conta do dividendo que eles ofereces”, sugere o head de alocações da Criteria.
Segundo Vieira, da Arton, alguns FIIs não tiveram problemas de vacância e nem mudanças em seu portfólio, mas tiveram suas cotas desvalorizadas puramente por causa do cenário macro. “Mas um prédio na Faria Lima não se desvalorizou 10% porque a NTN-B [Tesouro IPCA+] abriu”, comenta.
Isso, segundo ele, se traduz em uma oportunidade de comprar as cotas a um preço abaixo do que valem, e que têm perspectivas de recuperação.
Bolsa de valores segue barata, mas é preciso cautela
Segundo Isabel Lemos, do Fator, nesse contexto de juros mais elevados, “no mercado de renda variável, tem havido uma busca por ativos defensivos, exportadoras, empresas com fluxos de caixa previsíveis e ativos mais líquidos”.
Para quem aceita tomar um nível de risco mais elevado e mira o longo prazo, entretanto, ela diz que há outras empresas com maior potencial de crescimento. “Qualquer melhoria na percepção de risco Brasil fará com que empresas sensíveis às taxas de juros e/ou taxas de desconto se valorizem significativamente”, diz.
Caio Schettino, da Criteria, destaca que, em diferentes métricas, a bolsa de valor está barata. “A gente volta a ver múltiplos [que vimos na] pandemia, o índice de relatividade e o índice de força relativa mostram que há mais vendedores do que compradores no Brasil”, afirma.
Em que os brasileiros estão investindo?
Ele também cita a proporção entre opções de compra e de venda (call e put) na B3, que indica que atualmente há mais investidores comprando opções de venda (apostando na queda das ações) do que comprando opções de compra (apostando na alta).
“Os sinais estão claros, o mercado está sobrevendido”, afirma. “A gente não tem bola de cristal, mas eu acho que vai ter um rali considerável no Brasil ainda nesse ano. Mas quanto ao timing, não sei dizer quando vai acontecer”.
Ele ressalta, entretanto, a necessidade de ter posições em dólar para contrabalancear o risco de bolsa nesse momento. “A gente é convicto na valorização do dólar no longuíssimo prazo. Então acho que há uma proteção necessária para o cliente nessas horas também”.
Investido em empresas maiores
Vieira, por outro lado, comenta que a Arton tem sido “seletiva na escolha” e preferido alocações em ações de empresas maiores e com grande participação no Ibovespa. Segundo ele, são esses papéis que podem se valorizar mais rápido do que os demais se o fluxo de investimento do exterior voltar a fluir em direção ao Brasil.
Vale lembrar que a cautela e atenção aos movimentos seguem importantes. “O mercado é altamente dinâmico, e pode reagir rapidamente tanto a pioras quanto a melhoras de cenário. No momento, enfrentamos incertezas locais e externas; uma redução dessas incertezas poderia resultar em uma significativa recuperação dos ativos de renda variável, dada a atual assimetria de preços”, lembra Isabel Lemos.