Há um risco fiscal que pende sobre as contas públicas brasileiras e proteger seu patrimônio é parte importante de uma boa carteira. Essa foi uma das conclusões de um painel que reuniu especialistas em macroeconomia e investimentos, promovido pela Inteligência Financeira.
Em celebração aos 30 anos do Plano Real, a discussão reuniu Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos; Mariana Dreux, especialista em investimentos e gerente de gestão de recursos da Itaú Asset; e Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco.
Para Gustavo Franco, “o país vai ser o campeão mundial de juro alto enquanto for o campeão da indisciplina fiscal”. Um dos pais do Plano Real, o ex-presidente do BC argumentou que “a responsabilidade [fiscal] precisa ser reinventada”. “O conceito é muito bom, mas falta o recheio. A meu juízo, esse seria o grande desafio dessa administração”.
Em sua exposição, Mariana Dreux defendeu a alocação de parte do patrimônio em dólar como forma de proteção.
“Diferentemente do consenso para hoje, acho bom comprar dólar contra real, principalmente por essa questão fiscal. Acho que o ciclo de alta de juros vai ser muito maior do que o mercado espera hoje”, avalia a especialista. “No ambiente externo vejo, ao contrário, uma assimetria para juros mais baixos”, completa Dreux, reforçando a proposta de proteção de patrimônio em dólar.
Você pode assistir ao vídeo completo com a conversa entre Mariana, Gustavo e Mário Mesquita a respeito de soluções para o equilíbrio das contas públicas. Também há painéis que discutem como fazer do Real uma moeda forte de novo e o Real digital como a nova cara dos investimentos. Para assistir, basta acessar a página especial “De onde virá o próximo salto econômico do Brasil” e fazer o seu cadastro.
Desvalorização do Real e o Tesouro Direto como alternativa para proteção
Em sua exposição, Mariana Dreux explica que “o valor fiduciário de uma moeda é determinado pela confiança que os agentes têm na capacidade do governo que a emite”. “Nesse sentido, se a gente tem a perspectiva que o governo vai gastar muito e continuar gastando, a gente acaba entrando em um ciclo muito negativo”, argumenta.
“Gosto também da inflação implícita nessas NTN-Bs”, afirma a gerente de gestão de recursos da Itaú Asset.
As Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-Bs) são popularmente conhecidas como Tesouro IPCA+. Trata-se, portanto, do título do Tesouro Direto que tem sua rentabilidade refletindo uma soma da inflação medida pelo IPCA e uma taxa prefixada.
Atualmente, de acordo com o site oficial do programa de títulos públicos, as NTN-Bs pagam a inflação mais uma taxa que varia entre 5,99% e 6,17% ao ano.
Para Mariana Dreux, trata-se de uma alternativa melhor que a dos títulos prefixados, apesar de direcionar uma parte para patrimônio em dólar ainda seja a favorita da especialista. Ou seja, que a modalidade em que a taxa de rentabilidade é predefinida no momento da aplicação e fica travada ao longo do período de investimento.
“Se você comparar o investimento na NTN-B com o prefixado, sem dúvida nenhuma nesse cenário de pessimismo fiscal é muito superior”, argumenta. “É um nível de proteção muito interessante. Sem dúvida nenhuma, entre o prefixado e a NTN-B, acho que esse nível de inflação implícita é baixo para esse monte de risco que discutimos”, conclui.