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Tesouro Direto, COE, CRI, CRA, FIDC, Fiagro, FII, LCD, debêntures incentivadas, PGBL, VGBL, ETF. Todos os dias, clientes de assessores de investimentos são bombardeados com ofertas de uma gama crescente de produtos para aplicar o dinheiro.

E rentabilidades muitas vezes acima de 1% ao mês (em alguns casos com isenção de Imposto de Renda) parecem boas demais para se recusar.

Por isso, esses instrumentos, a maioria ligados a crédito privado, vêm batendo sucessivos recordes no Brasil.

Segundo a Anbima, só as emissões de debêntures incentivadas somaram R$ 88,2 bilhões de janeiro a agosto de 2024, já 30% a mais do que todo o ano de 2023.

Mas você sabe o que está envolvido quando um assessor te oferta um desses papéis?

Taxas, impostos, comissões, riscos e garantias, por exemplo, são alguns fatores normalmente não detalhados no material publicitário que aparece para os investidores, mas que podem impactar fortemente o resultado de uma aplicação.

Para te ajudar nessa tarefa, a Inteligência Financeira ouviu gestores, entidades e outras instituições do mercado para te ajudar a fazer as perguntas corretas, antes de tomar decisões.

Assessor de investimento: qual a rentabilidade líquida?

Uma emissão de dívida privada envolve uma série de agentes (custodiante, advogado, agência de rating, banco coordenador), todos remunerados.

Além disso, quando os papéis chegam aos investidores há comissões para os intermediários, no caso as corretoras ou bancos.

Nesse sentido, colhemos informações de profissionais do mercado sobre as comissões médias cobradas pelas corretoras sobre alguns dos ativos mais vendidos.

Em títulos públicos (como NTN-B) ou debêntures, a remuneração oscila entre 0,3% e 2% do patrimônio investido, dependendo do prazo do ativo.

Já em produtos como Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), os serviços comem de 1% a 4% do patrimônio.

Assim, num CRA com 90% do CDI, por exemplo, só o equivalente a 86% do índice pode ir para o bolso do investidor.

Isso se o investidor mantiver o papel até o vencimento. Se decidir resgatar a aplicação antes disso, sofre outro corte de igual tamanho.

Mais adiante, nos fundos de previdência, como PGBL e VGBL, a estrutura de taxas toma de 0,2% a 0,3% por mês.

Mas, de longe, o campeão em comissões é o Certificado de Operações Estruturadas (COE), que pode tomar de 2% a 10% da rentabilidade líquida.

Qual é a sua comissão?

Desde o ano passado, a partir da instrução 178 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os assessores são obrigados a informar seus clientes sobre quanto ganham de comissão em cada produto vendido.

Mas em geral isso só acontece se o cliente pedir.

A partir da entrada em vigor da instrução 179, em novembro próximo, as corretoras também deverão informar trimestralmente aos clientes quanto cobraram de comissão, inclusive as que repassaram aos assessores.

Isso é importante por permitir ao investidor saber quanto da rentabilidade do produto está sendo compartilhada com o assessor.

Aliado a isso, o cliente também deve procurar saber como essa remuneração se dá.

Frequentemente, a comissão do assessor é ‘na cabeça’, ou seja, no ato da venda.

Ao cliente, restará esperar que a aplicação renda. Se decidir sair antes do vencimento, paga outra taxa.

Logo, esse tipo de remuneração é alvo de muitas críticas porque pode criar um desalinhamento de interesses.

“É bom para o assessor, nem sempre para o cliente”, diz o gestor de investimentos da Hike Capital Ângelo Belitardo Neto.

Isso porque, de um lado, muitas das aplicações são sujeitas ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que incide sobre operações com prazo inferior a 30 dias. Ela pode comer até 96% do rendimento.

De outro, há a tabela regressiva de Imposto de Renda, que atinge aplicações como CDBs e Tesouro Direto. Resumidamente, quanto menos tempo no ativo, mais imposto.

Dessa forma, para compensar, o investimento de curtíssimo prazo precisa ter uma rentabilidade muito superior, o que é menos comum.

Quais são os riscos desse produto?

Profissionais mais experientes do mercado rapidamente percebem nos ativos que proporcionam rentabilidades maiores uma compensação por envolverem maiores riscos.

É muito raro essa lógica não ser verdade. Mas tanto o assessor que vende o produto como o cliente que compra podem ter uma tendência a minimizar os riscos, o que é um erro.

“As pessoas não deveriam investir apoiadas apenas na emoção”, diz o chefe de marketing da Ancord, Luis Abdal.

Associação que representa as corretoras de valores, a Ancord emite as certificações para os assessores de investimentos. Atualmente, são cerca de 25 mil no país.

A entidade lançou neste ano uma nova fase de sua campanha Invista com Segurança, com cursos online gratuitos. Tanto para reciclagem de assessores quanto para o público geral.

No caso de produtos como CRI, CRA, FII e debêntures, que se popularizaram nos últimos anos, os especialistas orientam os investidores a procurarem saber três coisas sobre o emissor do papel: o rating da emissão, o histórico do emissor no mercado e se ele publica relatórios de desempenho.

Grandes casas de investimentos publicam mensalmente uma carteira recomendada de títulos incentivados, que oferecem combinação de rentabilidade e qualidade.

A carteira do Itaú BBA, por exemplo, inclui apenas títulos com rating da faixa A até AAA (nota máxima).

Qual o risco do emissor?

No mês passado, vários fundos de investimento no agronegócio (Fiagros) tiveram desempenho negativo.

Isso porque eles tinham na carteira um CRA da AgroGalaxy, que pediu recuperação judicial.

A companhia já vinha com problemas financeiros há alguns anos.

Mas o papel, com vencimento em 2027, embutia promessa de rentabilidade de CDI + 4,25% ao ano, bem acima da média do mercado.

Nesse sentido, os especialistas em investimentos recomendam que os investidores também questionem o assessor sobre o histórico das empresas emissoras no mercado.

Além disso, sugerem que o cliente busque saber se a empresa emissora tem a prática de divulgar relatórios de desempenho, o que permite acompanhar sua situação financeira.

Qual a liquidez desse produto?

No jargão do mercado financeiro, liquidez indica a facilidade que um ativo tem de trocar de mãos.

Investidores experientes valorizam muito os papéis que dão maior oportunidade de saída. Por isso, frequentemente pagam proporcionalmente mais por eles.

Dessa forma, os ativos que prometem mais retorno podem justamente cobrar esse pedágio do investidor em troca.

Frequentemente, porém, este é outro tema não tratado com o devido cuidado na venda de uma aplicação financeira.

Os papéis de prazos mais longos, mesmo os que têm negociação diária no mercado, como os do Tesouro Direto, estão sujeitos a mais oscilações de preço, inclusive com perda do patrimônio, como resultado da marcação a mercado.

Essa é uma realidade ainda mais importante para os títulos de crédito privado (debêntures, CRA, CRI, FII, entre eles).

Nesse sentido, ativos que têm maior volume financeiro no mercado podem facilitar a saída. Logo, saber a quantidade de papéis no mercado também importa.

Diferente das ações, os títulos de dívida como debêntures não são negociados em bolsa, mas num mercado de balcão, de menor liquidez.

Outros sequer têm um mercado de balcão. Então, se o detentor quiser vender antes do vencimento, precisará pedir ajuda do assessor para achar um comprador.

Como já mostramos acima, essa saída incorre em taxas e, em geral, desvalorização do ativo.

Em alguns casos, como produtos de previdência, o cliente fica sujeito a pesadas penalidades, caso resgate o investimento antes do prazo de 10 anos.

Um tipo que demanda especial atenção é o Certificado de Operações Estruturadas (COE), um instrumento que mescla elementos de renda fixa e renda variável.

Esse produto pode ter um período de carência que vai de dois até mais de 10 anos. E em alguns casos envolve o risco de perda total do investimento

O investimento tem garantia do FGC?

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é mantido por instituições financeiras.

Esse fundo garante a proteção dos valores dos clientes, em até R$ 250 mil por CPF, em caso de quebra da instituição.

Pra facilitar, preparamos a tabela abaixo:

Fonte: Com informações do FGC

Quais certificações você têm?

Para operar no mercado regulamentado, o assessor precisa ter o certificado de Agente Autônomo de Investimentos (AAI), emitido pela Ancord.

Porém, o agente terá melhores condições de entender como os produtos com os quais trabalha se encaixam com o perfil dos clientes quando tiver uma formação mais abrangente.

“Quanto mais certificações, melhor”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Assessores de Investimentos (Abai), Diego Ramiro.

Nessa linha, há outras certificações na praça que podem mostrar qual autoridade um profissional da área tem para fazer suas recomendações.

Elas começam com o Certificado Profissional Anbima (CPA) 10, para profissionais de bancos, e o CPA-20, que habilita atender os segmentos alta renda.

Depois vem o Certificado de Planejador Financeiro (CFP, na sigla em inglês), que atesta uma capacidade estratégica acerca de temas como tributação, seguros e sucessão.

A seguir, o Certificado Nacional do Profissional de Investimento (CNPI) é obrigatório para analistas de investimentos que podem inclusive assinar relatórios de recomendações.

Essa certificação é emitida pela Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais).

Por fim, há o Chartered Financial Analyst (CFA), uma cobiçada habilitação internacional que atesta o detentor como profundo conhecedor do mercado financeiro.

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