O presidente da Fiesp, Josué Gomes, disse hoje que há uma obsessão com o nome da Shein no país, afirmou que não engana associados com narrativas para fazer “manchetes”, e afirmou que se a Shein tivesse contratado as empresas que falam tanto dela, ela não gastaria tanto em marketing e influencers como hoje.

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Foi a primeira vez que Gomes falou publicamente sobre o tema, também sobre o acordo de sua empresa Coteminas com a Shein, e sobre críticas de que ele teria adotado postura conflituosa ao negociar parceria com a plataforma chinesa e liderar a maior entidade da indústria nacional quando os setores discutiam novas regras de imposto para as plataformas estrangeiras.

Ao tecer as criticas, Gomes não citou especificamente a indústria nacional de têxteis, associada da Fiesp, e os varejistas nacionais, que estavam nas negociações junto ao governo entre 2023 e 2024, e criticavam duramente plataformas asiáticas beneficiadas pelo programa Remessa Conforme. O programa garantia isenção de importados em remessas de até US$ 50 para quem seguisse certas normas de importação.

“Eu acho admirável o esforço em falar no nome dela [Shein]. Se ela não gastasse tanto em marketing e influencers, e deixasse só falarem no nome dela, ela não teria tido resultado tão avassalador”, disse ele, de forma irônica. “Não consigo compreender porque as empresa focam falando e fazendo propaganda dela.”

Segundo ele, o problema com as plataformas existia por conta da falta de isonomia tributária, mas a questão se resolveu. Até o fim de julho, havia isenção tributária de importados ate US$ 50, e desde então, passou a valer imposto de 20%.

No Brasil, a cadeia de produção de moda paga cerca de 90% de impostos, da fabricação até a venda.

“Há uma empresa admirável, super competitiva que vende R$ 120 bilhões [trata-se do Mercado Livre, que não e asiático, mas argentino] e temos que compreender isso. A indústria precisa aderir a isso. Se não, vai ter problemas”.

“Eu encaro eles como potenciais clientes e eles são eficientes e competitivos”, afirmou durante a coletiva de imprensa na sede da Fiesp, a principal federação representiva da indústria brasileira.

“Não sou porta voz deles [Shein], mas a digitalização e um caminho inescapável.”

A Coteminas, empresa liderada por Gomes, em recuperação judicial, fechou um acordo de produção com a Shein, que não avançou, como noticiou o Valor em junho, por causa de mudanças feitas pela Shein nos acordos comerciais fechados após o anúncio

O executivo da Coteminas ainda disse que foi criada uma narrativa contra as plataformas com números falsos, e que a venda da Ásia ao Brasil é muito menor do que se comenta. Disse que o valor movimentado é de R$ 15 bilhões apenas, somando todas as plataformas, na venda de itens internacionais.

Questionado sobre o fato de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões ser apenas a venda projetada da Shein neste ano no Brasil, e a Shopee ter mais R$ 15 bilhões em vendas brutas totais estimados pelo mercado só neste ano no país, ele disse que 60% do que a Shein vende é nacional. E 85% da venda da Shopee vem de lojistas locais. A Shein não havia divulgado esse número até hoje.

Sobre o fato de ocupar a cadeira de presidente da Fiesp, uma entidade da indústria paulista, e não participar das discussões representando o setor, durante as negociações com as plataformas asiáticas, Gomes disse que deixou claro em manifestação, por escrito, o seu apoio à isonomia. Mas ele não queria “enganar associados”.

“Quem fala que o problema é a falta de isonomia está enganando o associado e eu não faço isso. Não preciso de manchetes nem fazer propaganda que estou resolvendo o problema do associado, porque isso pode ser uma problema mesmo lá na frente.”

“Há viajantes internacionais trazem R$ 180 bilhões ao país ao ano, que é 12 vezes o valor das plataformas. E tem esse fluxo que vem de Paraguai também. Então, [os marketlaces] não são o único problema.”

“Quem dera se o problema da indústria brasileira fosse o ‘cross border’. Eles são R$ 12 bilhões, R$ 15 bilhões no ano. São 5%, 6%”, disse.

“Inventaram um número, uma narrativa. E houve mérito do governo em resolver a questão”. Desde o dia 1° de agosto, há imposto de importação de mercadorias, em envios acima de US$ 50, de 20%, mais ICMS de 17%.

Gomes ainda foi perguntado sobre a sua eventual posição de conflito ao presidir a Coteminas, que fechou acordo com a chinesa Shein, e comandar a Fiesp. A Shein fez um empréstimo de USS 20 milhões para a Coteminas em 2023.

“Conflito não vejo porque separo as coisas de forma clara. Nunca peguei um avião ou paguei algo relativo com minha empresa.”

Gomes foi perguntado porque não participou das reuniões de debate do tema da isenção junto ao governo e às empresas entre 2023 e 2024, apesar de convidado para as reuniões, mas não respondeu.

Ele também foi perguntado porque não indicou um interlocutor da Fiesp para o tema, considerando que a Coteminas já tinha um acordo de financiamento com a Shein, e ele poderia estar “conflitado” no caso, mas ele não se manifestou.

Gomes ainda comentou sobre o pedido de recuperação judicial da Coteminas, empresa em crise e por ele gerida.

“Nós tomamos decisão da proteção legal e tenho certeza que vamos sair disso. Isso [a crise na Coteminas] certamente é reflexo da taxa de juros da economia.”

Com informações do Valor Econômico

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