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Sempre que temos uma competição esportiva de grande impacto internacional, como os em Paris que começam nesta sexta (26) e uma Copa do Mundo de futebol, voltam as análises e avaliações sobre a relação custo/benefício para os países-sede. Vamos então à tradicional coluna olímpica tratando do tema para os jogos de Paris.

Nesta coluna, vamos analisar o tema dos jogos de Paris 2024 sob a ótica do custo e a do benefício para a população. Neste caso, a medição é sempre mais qualitativa que quantitativa, e por isso trarei mais estimativas que realidades.

Quanto custa uma competição olímpica?

Para responder a esta pergunta utilizarei um paper produzido pelos professores Alexander Budzier e Bent Flyvbjerg, da Universidade de Oxford, no qual trazem informações sobre custos totais e estouro de custos em todas as olimpíadas disputadas a partir de 1960.

Prevejo contestações aqui e acolá, mas trata-se de um estudo acadêmico publicado e que torna-se a melhor referência para o tema.

Acompanhe abaixo os valores investidos nas competições:

Começamos com o gráfico acima, com os valores totais investidos nas competições. São informações públicas e disponíveis. No caso dos jogos de Paris 2024 os valores ainda são preliminares.

Medalha de ouro para os jogos do Rio 2016 na competição “Maior valor investido numa competição”. Não vou entrar no mérito, porque o tema não é este. O que quero abordar é a redução de gastos que vimos em Tóquio e agora em Paris 2024.

A lógica de redução está associada à importância que se dá para a sustentabilidade dos jogos em termos de investimentos. Parte relevante vem dos estados, e apesar do bonito discurso do legado, a realidade é que fica muito mais no discurso que na prática. Os cariocas poderão refletir melhor sobre o tema.

Investimentos em Paris 2024

Em Paris 2024, a ideia foi utilizar estruturas existentes, e investir o mínimo necessário para que a idade recebesse cerca de 10.500 atletas, que já é um número inferior aos 11.420 de Tóquio, e semelhante ao recebido pelo Rio.

Analisando as estruturas, Paris adaptou estádios como o Stade de France e o complexo de Roland Garros, construindo apenas um ginásio para 8 mil pessoas, um parque aquático e estruturas móveis, como as de vôlei de praia, ao pé da torre Eiffel.

E claro, uma vila olímpica, que talvez seja o grande legado para a cidade, pois são 72 edifícios na periferia de Saint-Denis, região de baixa renda da capital francês.

Além da estrutura imobiliária, na construção foram contratados apenas moradores da região, uma das mais complexas em termos econômicos e socias da cidade. Não é muito, mas é bastante. Para a vila olímpica foram investidos US$ 1,63 bilhão.

Paris 2024: os custos dos jogos

Fora isso, apesar das maravilhas indicadas pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), o resultado tende a ser pior que o esperado para a Cidade Luz.

Primeiro, porque Paris já é um dos principais destinos turísticos do mundo, especialmente durante o verão local. Ou seja, a competição não aumentará o fluxo de pessoas.

Aliás, ocorre o contrário: notou-se demanda inferior ao usual, porque nem todos querem visitar a cidade no meio de um evento desse porte.

Além disso, os custos de hospedagem foram para a estratosfera, o que acarretou numa enorme vacância nos hotéis da cidade, a ponto de termos boas promoções de última hora. O mesmo acontece com as passagens aéreas, cuja demanda está inferior ao habitual.

Um estudo contratado pelo COI indica que Paris terá um impacto econômico positivo de € 3,00 para cada € 1,00 investido pelo estado. Como o estado gastou cerca de 51% do total investido – algo como € 4,5 bilhões – o impacto seria de € 13,5 bi, que o próprio governo francês indica menor – cerca de € 10 bi – e que um estudo da S&P indica que o evento será de baixo impacto, justamente porque o fluxo de pessoas já é normalmente elevado na cidade. Ainda assim, a agência indica um aumento de 4,9% na arrecadação do período.

Sobrecusto nas obras

Todo mundo que já fez uma reforma em casa sabe que o custo inicial costuma ser multiplicado algumas vezes quando a obra terminada.

Ainda mais em obras de prazo longo de execução, a inflação recente, o aumento no custo com matéria-prima, acelerações para cobrir atrasos, tudo isso eleva o valor final do gasto.

No estudo dos professores de Oxford encontramos a seguinte tabela de sobrecustos nos jogos olímpicos recentes:

Naturalmente que darei um desconto sobre a informação de Pequim, dado que o nível de escrutínio e cobrança da população é reconhecidamente na comparação com os demais países.

Nosso Rio de Janeiro vence outra medalha de ouro nessa prova, e apesar do custo total de Paris ficar abaixo de Tóquio, não diverge muito da média. Aliás, no estudo, a média de sobrecusto real dos eventos com dados disponíveis é de 159%.

A título de curiosidade, na base de dados da Universidade de Oxford a média de sobre custos por tipo de projeto é a seguinte:

Óbvio que estamos falando de mais estruturas no mesmo espaço, movimentação numa área maior, com complexidades diferentes no mesmo projeto. De estádios, a linhas de transporte público, de piscinas a projetos residenciais. Natural, portanto, que haja estouros e a gestão das obras seja difícil.

Eventos mundiais são caros

No final das contas, está mais que provado que eventos como o de Paris em 2024 custarão caro, tendem a ter sobrecusto, e terão um legado muito menor do que se vende para conquistar o direito de realizá-los.

A dificuldade que existe é justificar o gasto numa sociedade que tem carências, e cujo uso do recurso estatal poderia ser feito de forma a beneficiar mais pessoas.

Ao mesmo tempo, vemos em Paris 2024 um projeto imobiliário relevante, uso de mão-de-obra local, aumento em 14 novas estações de metrô e a revitalização do rio Sena.

É muito? É pouco? Poderia ser diferente?  Não sei. Cabe à cada sociedade avaliar seus governos e os impactos que os eventos trazem.

O que posso dizer é que os os jogos em Paris 2024 estão começando, e nos próximos 15 dias precisamos apenas de organização, paz e tranquilidade para que as disputas sejam por pontos e medalhas.

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