30 anos depois, e o real dá um novo passo. Nesse meio tempo, nossa moeda desvalorizou frente ao dólar, viu morrer o DOC e nascer o Pix e agora está aguardando o surgimento do Drex. Mas toda essa revolução só foi possível com a chegada do Plano Real, há 3 décadas, o que estabilizou a economia.

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Este cenário todo foi tema de um dos painéis do evento de comemoração do Plano Real, que aconteceu na última quarta-feira (21), no Itaú Unibanco, com a participação de nomes de peso, como Gustavo Loyola, Pedro Malan e Edmar Bacha, e que você fica por dentro no texto Mentores do Plano Real contam os bastidores do lançamento da moeda.

O último painel do evento discutiu uma das conseqüências do Plano Real: o Drex. O Drex está sendo chamado na boca miúda de “real digital”. Mas isso é diminuir muito a potência do sistema.

Aliás, abaixo você confere os principais trechos da conversa entre a fundadora e CEO da Bee4, Patricia Sitlle, e o diretor de Produtos Corporate Sales do Itaú Unibanco, Eric Altafim, sobre o Drex.

Para que serve o Drex?

Segundo Eric Altafim, o Drex deverá ser usado como um sistema de pagamento e também em investimentos. “Ele vai ser o real do interbancário, o real que a gente vai usar no dia a dia para pagamentos e em investimentos tokenizados.” A grosso modo, um ativo tokenizado é um ativo que foi “fatiado” digitalmente. Isso o torna mais acessível aos investidores, principalmente quando se trata de investimentos que exigem um maior aporte inicial.

O Drex também terá outra função importante: ele será rastreável. Ou seja: a Receita Federal poderá acompanhar exatamente a origem do dinheiro e para onde ele está indo. Em tese, é o fim da evasão fiscal.

“Vamos transformar o real em um ativo digital”, disse Eric.

Drex vira “dinheiro programado

Eric Altafim foi além. Com a chegada do Drex, você terá a chance de programar suas compras e investimentos. “É o dinheiro programado. É usar o dinheiro com inteligência. “Então, tem várias coisas que a gente vai conseguir fazer com esse real digital.”

Desafios do Drex

O Banco Central, porém, ainda não resolveu alguns desafios do Drex. “E, um deles, é o desafio tecnológico sobre a questão da privacidade”, afirmou Eric Altafim. “Mas os usos do Drex vão começar aos poucos.”

Tokenização de ativos

Assim, uma das funções do Drex é facilitar a vida dos investidores, fazendo com que eles possam, entre outras coisas, negociar ativos a qualquer hora, em qualquer dia. Mas, para isso, os investimentos precisam estar “tokenizados”, ou seja, digitalizados.

Em linhas gerais, a Bee4 chegou ao mercado para atacar esta frente. Em 2021, Patricia Stille lançou a companhia, que é o primeiro mercado regulado, ou seja, com autorização da CVM, para negociar ativos tokenizados. Focada em pequenas e médias empresas, a Bee4 é como uma bolsa de valores, cuja negociação acontece às quartas-feiras. Já estão lá empresas como Engravida, Mais Mu e Eletron Energia.

“A tokenização é um meio para trazer eficiência nas rotinas de uma infraestrutura de mercado, especialmente depois que você faz a operação de compra e venda. Tem uma série de processos de conciliação, reconciliação entre os participantes, corretoras”, disse Patricia.

Dessa forma, a tokenização de ativos amplia o mercado de capitais para os investidores. “Hoje, a bolsa de valores brasileira tem pouco mais de 400 ativos. Se comparado com outras bolsas do mundo, a gente está num patamar pior do que países muito menores, como o Vietnã. Por outro lado, temos um mundo de startups efervescente”, afirmou Patricia.

Moeda do Banco Central

Além de real digital, o Drex também vem sendo chamado de “moeda do Banco Central”. “E isso é bom, porque traz credibilidade para todo o mercado”, disse Patricia. “Vamos ganhar escala e ter a confiança dos investidores. O Drex vai dar um super empurrão na indústria.”

Investir vai ficar mais barato

Eric Altafim é um defensor da ideia de que, com o Drex, investir vai ficar mais barato. Por quê? “Porque haverá uma democratização dos investimentos. Um fundo, por exemplo, tem uma série de procedimentos que garantem que os ativos estarão lá, embaixo dele. Isso custa dinheiro. Você tem que ter algum intermediário ali, olhando toda a estrutura. Agora, se você tiver uma rede blockchain, aonde todo token que nascesse ali representa uma cota de token, o custo da operação cairia.”

Além disso, salientou Eric, a CVM e o Banco Central podem estar plugados em todo o sistema. “Você vai ter mais investidores comprando ativos no mercado de capitais e empresas emitindo dívidas mais barata
também (debêntures).”

Quando o Drex começa?

Sendo assim, a pergunta que fica é: quando o Drex tem início e fica bem azeitado? “Talvez toda essa revolução aconteça entre 5 a 10 anos”, disse Eric.

Outra grande mudança é sobre quem “guarda” suas operações via Drex. “O principal risco é como você guarda o seu ativo, que provavelmente vai estar custodiado do mesmo jeito que a gente faz hoje”, disse Eric.

O ponto é que hoje você precisa ter uma chave de acesso ao blockchain e, portanto, às suas moedas digitais (bitcoin, ethereum entre outras).

Eric lembrou das histórias de investidores de criptomoedas que perdem a chave de acesso. Ou de investidores que não têm acesso a essa chave, porque ela está com a corretora digital. E aí, a corretora quebra. “Todo o investimento vai para a massa falida. Então, revolução regulatória precisa acontecer.”

Eric Altafim levantou uma questão interessante. Por que o Itaú não fez seu real digital? Ou o Bradesco? “Legalmente até daria para ter feito. Mas o problema central é que só ter a moeda não dá pagamento de juros ao investidor. O Drex chega para evitar que haja uma proliferação de reais digitais”, afirmou o executivo.

A força do Pix

Patricia Stille trouxe ao debate a importância do Pix. “Hoje, 190 milhões de brasileiros usam o Pix. São 770 milhões de chaves. Então, pequenos prestadores de serviço passaram a ter acesso ao meio de pagamento. E isso é muito relevante. Imagine o que pode acontecer com o mundo dos investimentos”, disse ela.

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