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A CSD BR espera concorrer com a B3 com toda a força no início de 2027. Isso no mercado de ações, que corresponde a 35% das receitas da B3. Antes disso, pretende lançar um mercado organizado de crédito privado. Contudo, Edivar Queiroz Filho, CEO da empresa, reconhece: criar uma nova bolsa é um desafio de alto risco.

“Não somos os únicos loucos que viram uma oportunidade ali. São poucos loucos, mas têm alguns que viram espaço e coisas para fazer”, diz o executivo da CSD BR, que tem como sócios Santander, BTG Pactual e Chicago Board Options Exchange.

A empresa, que já opera no mercado de renda fixa e derivativos, é um dos potenciais desafiantes da B3. Outra iniciativa é da ATG, que pretende abrir uma nova bolsa no Rio de Janeiro, programada para começar a operar no segundo semestre de 2025.

“A gente fica muito feliz que outros estejam confirmando a nossa tese, que desenvolvemos faz bastante tempo”, acrescenta Edivar Queiroz Filho. Ele avalia que o monopólio hoje limita o desenvolvimento do mercado financeiro nacional.

Anteriormente, outras iniciativas de competir com a B3 foram frustradas, mas desta vez alguns agentes do mercado parecem entender que a proposta é para valer.

Recentemente, o Goldman Sachs emitiu relatório apontando o impacto que possíveis novos concorrentes já causam nas ações da B3. Só em 2024, a operadora da bolsa perdeu 24% do seu valor de mercado.

‘Alinhamento de astros’ favorece criação da nova bolsa

Edivar acredita que o surgimento de iniciativas de concorrência com a B3 está ganhando tração por conta de um “alinhamento de astros”.

Nesse sentido, o relatório do Goldman Sachs parece confirmar que desta vez há real potencial de desafiantes atacarem o mercado hoje dominado pela B3.

“O arcabouço legal hoje permite fazer esse tipo de coisa (lançar uma nova bolsa). No passado, não havia essa clareza”, avalia Edivar.

Antes, a lei definia que as operações só poderiam ser liquidadas na Cetip, empresa que foi fundida com a BM&FBovespa em 2017 para formar a incumbente. Esse entrave já não existe mais.

O executivo considera que o mercado financeiro está consolidado e vive agora uma segunda etapa.

“O Banco Central brasileiro fez um papel excepcional em termos de cuidar da estabilidade financeira. Naquela época (da fusão entre Cetip e BM&FBovespa), o BC não buscava concorrência”, diz o CEO.

“Conquistada essa estabilidade financeira, o BC, agora, busca eficiência. A solução do passado, de concentração, não é mais adequada. Assim, a mudança regulatória foi essencial”, complementa.

Interoperabilidade

O CEO da CSD BR vê plataformas e serviços diferentes operando no espaço hoje dominado pela B3. Assim, a perspectiva é que diferentes plataformas negociem com preços diferentes. Para tanto, é preciso que seja solidificada a interoperabilidade no mercado financeiro.

“Você poderá comprar em uma (plataforma) e vender em outra. E a interoperabilidade permite não se preocupar em lembrar onde você comprou e onde vai parar (o ativo). Para o investidor, é o sonho”, diz Edivar.

Apesar do otimismo do desafiante, o Goldman Sachs levantou alguns pontos de atenção com relação a criação de novas bolsas no Brasil.  

“Notamos que ter mais de uma Contraparte Central (CCP) também pode criar ineficiências no mercado, tais como diferentes requisitos de liquidação e de margem”, avalia o Goldman.

CCP é a parte da operação que permite a liquidação dos contratos, entre outras tarefas, e absorve os riscos financeiros.

De acordo com o banco, os entrantes poderiam ter atuação limitada, dada a necessidade de “elevados requisitos de capital e garantias para a manutenção de uma contraparte central”.

O relatório aponta ainda que na maioria dos países só existe um operador de CCP.

CSD BR garante que tem capital financeiro e intelectual para nova bolsa

Contudo, Edivar Queiroz Filho diz que a CSD BR já possui os recursos necessários para operação de CCP. Embora reconheça que “ter o dinheiro é apenas parte da solução”.

“Precisa ter um sistema de risco implementado e funcionando. Não adianta ter o capital e ser ruim de gestão”, acrescenta Edivar.

Nesse sentido, ele afirma que conta com executivos experimentados na questão envolvendo o risco de mercado no board da CSD BR. Inclusive, alguns que saíram do incumbente.

Além disso, afirma que a empresa tem feito demonstrações técnicas ao Banco Central e à CVM.

Mercado secundário de crédito privado para meados de 2025

Para o Goldman, o risco que os potenciais concorrentes da B3 correm é ainda maior no mercado de crédito privado, especialmente em derivativos, que representam 23% das receitas disponíveis.

“Qualquer novo concorrente teria que criar seus próprios contratos de derivativos listados”, destaca o relatório do Goldman.

Porém, Edivar diz que a empresa tem como uma de suas especialidades a atuação com derivativos, o que facilita a atuação não apenas nesse segmento de mercado, mas no de alto risco como um todo.

Além disso, a CSD BR prevê lançar em meados de 2025 o mercado secundário organizado de crédito privado.

“Já temos aprovações para isso, a gente só precisa aprovar o regulamento do funcionamento da plataforma, mas já temos a licença para operar o mercado de balcão organizado.”

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