O Itaú piorou nesta sexta-feira (4) as previsões para algumas variáveis da economia do Brasil diante da percepção de maiores gastos do governo.
Para o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, isso cria uma piora na percepção de risco do país por parte dos investidores, refletindo numa taxa de câmbio mais pressionada e impactos nos índices de preços.
Nesse sentido, a equipe de análise econômica do banco elevou a estimativa para a inflação medida pelo IPCA de 2024 e 2025 (confira tabela abaixo).
“A redução da contenção de gastos no último relatório bimestral sugere um ajuste fiscal limitado e contribuiu para aumento da percepção de risco”, afirma o relatório.
Como desdobramento desse processo, o Banco Central poderia ter de elevar ainda mais o juro básico do país.
Por enquanto, Mesquita e sua equipe preveem que a Selic, hoje em 10,75% ao ano, suba a 12% no começo de 2025.
“No entanto, a resiliência da economia traz risco de um ciclo um pouco mais extenso”, afirmou o economista.
Além disso, uma eventual rodada adicional de depreciação do câmbio é um fator que poderia contribuir para altas adicionais, acrescentou ele.
Confira como ficaram as previsões do banco para algumas das principais variáveis macroeconômicas do pais:
Previsões Itaú | Previsão anterior (2024) |
Previsão atualizada (2024) |
Previsão anterior (2025) |
Previsão atualizada (2025) |
Crescimento PIB % | 3 | 3,2 | 2 | 2 |
Inflação IPCA % | 4,2 | 4,4 | 4,1 | 4,2 |
Resultado primário % do PIB | -0,4 | -0,4 | -0,8 | -0,8 |
Taxa de câmbio R$/US$ | 5,40 | 5,40 | 5,20 | 5,20 |
Taxa de desemprego % | 6,9 | 6,9 | 7 | 7 |
Saldo da balança comercial (US$ bi) | 75 | 70 | 70 | 60 |
Selic final do ano % | 11,75 | 11,75 | 11 | 11 |
Dívida pública líquida % do PIB |
62,9 | 62,9 | 67,5 | 67,8 |
Cenário do Brasil: na contramão da Moody’s
O cenário do Itaú contrasta com o desenhado pela agência de classificação de risco Moody’s, que na terça-feira desta semana elevou a nota de crédito do país para Ba1.
Dessa forma, a decisão deixou o rating do país a um passo da faixa de baixo risco de crédito.
A agência alegou que o país tem maior potencial de crescimento econômico nos próximos anos e que o governo tem mais chances de cumprir metas fiscais.
Mesquita, entretanto, ponderou que o governo precisa retomar o controle de despesas para dar sustentabilidade à trajetória do gasto público.
“Sem o controle de gastos obrigatórios, uma estratégia de ajuste fiscal com foco maior no aumento
de receitas pode não ser capaz de produzir a confiança de que haverá uma consolidação fiscal sustentável”, escreveu o economista do Itaú.