Quem começa a investir encontra nos aplicativos de investimentos ou de bancos sugestões de aplicações variadas, baseadas no perfil de risco daquele investidor. Essas sugestões estão na “carteira recomendada”, que une uma lista de ativos variados distribuídos conforme a quantidade de recursos que se quer investir. Mas, será que dá para confiar?

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“Essas carteiras são como comprar uma roupa prêt-à-porter, ou seja, aquelas com tamanhos e modelos pré-definidos”, explica Felipe Martins Passero, CFA e sócio da InvestSmartXP. “Não vão ter um caimento de uma roupa sob medida, mas muitas vezes é um bom ponto de partida. Como num terno, o ideal é fazer alguns ajustes.”

Normalmente, essas carteiras são montadas por analistas humanos, que usam parâmetros e dados históricos dos investimentos para elaborar a combinação sugerida, considerando o retorno esperado, a volatilidade, e correlação entre os ativos. Ou seja, elas sugerem, em uma mesma carteira, ativos que vão ter saldos positivos em situações diferentes, trazendo maior previsibilidade de retorno no conjunto como um todo.

“Se um ativo tem retornos positivos num determinado contexto e outro ativo tem retornos positivos em um outro contexto, eles não vão ter perdas no mesmo momento”, afirma Passero. Um exemplo, segundo o analista financeiro, é combinar ações brasileiras e dólar. “Quando temos uma notícia negativa no cenário doméstico, a Bolsa cai, e o dólar sobe. Uma carteira com investimentos em ações e em dólar poderia neutralizar o impacto de uma notícia doméstica negativa”, explica.

Como ‘ler’ a carteira recomendada

Considerando que a carteira recomendada é uma sugestão baseada em dados e combinações gerais de investimentos de acordo com cada perfil, o investidor deverá olhar para essa lista de aplicações procurando informações que indiquem se elas estão alinhadas com seus objetivos pessoais.

Um bom exemplo é observar se o prazo de investimento recomendado está de acordo com o período em que se pretende deixar o dinheiro rendendo. Para isso, é preciso conhecer algumas características dos investimentos.

Passero explica que as sugestões de renda fixa pós-fixada atende aos interesses de curto prazo – se elas estiverem na sua carteira recomendada, observe a porcentagem destinada a este investimento e se o montante está de acordo com seus planos. Já as ações e fundos de ações terão bons rendimentos para prazos em torno de 5 anos.

“Quem investe em bons fundos de ações há 10 anos não tem motivos para se decepcionar. Porém, quem investe nos mesmos fundos ou carteira de ações há 2 ou 3 anos pode estar insatisfeito se comparar os retornos com os da renda fixa. É questão de prazo e perspectiva”, diz Passero.

Outro ponto de atenção é que a carteira recomendada pode mudar entre os aplicativos de banco para banco, de banco para corretora e entre as corretoras. É importante saber que o banco prioriza investimentos de gestão própria. Já as corretoras tendem incluir na cesta de investimentos produtos de diferentes empresas do mercado financeiro.

Uma vez feito o investimento na carteira recomendada, a gestão dos ativos fica a cargo do investidor. É ele quem deverá monitorar os rendimentos e observar se as opções continuam dentro dos retornos esperados.

Caso seja preciso retirar um valor investido, é importante observar de qual aplicação será pedido o resgate. A sugestão de Passero é priorizar movimentar os investimentos de renda fixa pós-fixada com prazo de resgate D+ 1 e D+ 0 (leia mais abaixo sobre siglas, datas e prazos).

“Ele deve priorizar utilizar os recursos da reserva de emergências de sua carteira de investimentos. Caso seja um resgate programado, usar recursos da parcela do portfólio previamente planejada para aquele objetivo”, aconselha.

Siglas, datas e prazos

Quando o investidor for escolher as aplicações da carteira recomendada, ele irá se deparar com informações como prazo de cotização e liquidação.

Passero explica que a cotização indica a data para saber o preço da cota do seu resgate. Assim, um fundo com cotização de 30 dias considera o preço da cota daqui a 30 dias. Se for pedido o resgate hoje, o investidor terá de de esperar 30 dias para saber exatamente o quanto receberá.

“Uma cota de fundo é uma fração, uma parte de um fundo. Cada fundo é como se fosse uma empresa, já que possui CNPJ próprio e balanço contábil próprio. Cada investidor é como se fosse sócio daquela ‘empresa’, chamada de fundo. Quando aplica, o investidor compra uma participação naquele fundo. Quando resgata, ele vende a participação naquele fundo. O valor da cota é o valor dos ativos que o fundo investe dividido pelo número de cotas existentes do fundo. É o preço de cada fração do fundo”, explica.

Já o prazo de liquidação é o tempo que o fundo leva para pagar seu resgate, após a venda da sua cota. “Quando um fundo aberto processa um resgate, ele anula as cotas que você resgatou e vende os ativos na proporção correspondente. Se a pessoa tem 1% de um fundo e solicita um resgate, o fundo vende 1% dos ativos que ele investe. Quando ocorre uma aplicação, o fundo cria novas cotas e compra ativos na proporção da sua aplicação em relação ao total do fundo”, afirma o analista.

Além dessas informações, a carteira recomendada traz siglas com conceitos importantes para o investidor conhecer, como por exemplo, quando o investimento aparece com liquidez D+1. A liquidez representa o tempo que o investidor terá o dinheiro disponível quando pedir o resgate. Uma aplicação de liquidez D+1 quer dizer que, ao pedir a retirada do investimento e o acesso ao recurso, o investidor terá o dinheiro na conta em um dia (considerado o dia do pedido ‘D’ mais um dia ‘+1’). O mesmo conceito pode ser aplicado em investimentos com liquidez D+2, e assim sucessivamente.

Outro exemplo é a cotização em D+30 e liquidação em D+3. Neste caso, o dinheiro vai estar disponível na conta do investidor em 33 dias, que podem ser dias corridos ou úteis, depende do que o fundo irá indicar.

Há, ainda, nomes e siglas que podem aparecer junto à aplicação sugerida, que indicam qual a empresa que vai gerir aquele fundo e o tipo de fundo de investimento. Um investimento chamado “XPTO FIRF”, por exemplo, indica que a gestora do fundo é a empresa ou o banco XPTO, e FIRF é a sigla para um Fundo de Investimento em Renda Fixa.

Confira abaixo algumas siglas e tipos de fundos, segundo Passero:

RF (Renda Fixa)

Nesses fundos pode haver investimento exclusivo em títulos do governo brasileiro, em crédito de empresas, ou uma mistura dos dois.

CP (Crédito Privado)

Este fundo investe exclusivamente em dívidas de empresas. É um investimento de renda fixa, porém sujeito ao risco das empresas não pagarem suas dívidas. Para garantir maior segurança, a recomendação é procurar fundos que investem em empresas sólidas em seus setores.

FIA (Fundo de Investimento em Ações)

É um fundo que investe exclusivamente em ações. Os tipos de empresas estarão especificados em um arquivo que pode ser acessado dentro do próprio aplicativo de investimentos;

FIM (Fundo de Investimento Multimercado)

Esse fundo pode investir em renda fixa, moedas, ações e ativos no exterior. Estes detalhes vão no arquivo com descrições do fundo que pode ser acessado dentro do próprio aplicativo;

FII (Fundo de Investimento Imobiliário)

Fundo que compra imóveis para obter renda através dos aluguéis, desenvolvimento imobiliário ou compra e venda de imóveis. Também podem investir em dívidas lastreadas em imóveis, as chamadas CRIs.

Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais)

Fundo que investe em dívidas com garantia de colheitas, venda de insumos agrícolas ou que investem na compra de fazendas, construção de Silos para armazenamento de grãos e posterior aluguel destas estruturas.

Inflação Ativo (Fundo de Renda Fixa Inflação Ativo)

Quando o gestor compra títulos do governo que pagam juros e a correção da inflação. O gestor ativamente busca os melhores prazos e vencimentos, visando maximizar o retorno.

PE (Private Equity)

Fundo que investe em empresas de capital fechado, geralmente empresas com um certo grau de maturidade e com uma parcela importante do mercado onde atuam. Segundo Passero, estes fundos buscam transformar uma empresa regional em nacional, ou uma empresa familiar em gestão profissional, ou uma empresa que, apesar de ter uma determinada vantagem competitiva, não é líder de mercado. Feito isso, o fundo abre o capital da empresa na Bolsa ou vende ela para um concorrente maior, e devolve o lucro para os investidores. Esses fundos têm um prazo de maturação de 7 a 10 anos e costumam render mais que fundos que investem apenas em empresas já listadas na Bolsa. Geralmente, têm entre 10 a 20 empresas no portfólio. Os gestores do fundo atuam ativamente na gestão das empresas, muitas vezes ocupando a posição de executivos. Neste tipo de fundos não há muito espaço para erro na escolha das empresas.

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