Buscando explicar como a política fiscal tem interferido nas projeções dos modelos do Banco Central, o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, apontou que há divergências entre como os participantes do mercado veem os efeitos da política fiscal na economia nos próximos meses.
“Olhando para o Questionário Pré-Copom, há quem diga que a redução do impulso fiscal (menos gastos) combinada a uma taxa de juros mais restritiva pode provocar uma desaceleração mais acentuada e uma consequente abertura no hiato do produto. Por outro lado, há quem olhe com mais atenção para a qualidade deste impulso fiscal. Com aumento do salário mínimo e das políticas de transferência de renda, e entenda que estas políticas públicas, combinadas com um crédito forte, continuem dando sustentação para a demanda agregada”, afirmou Galípolo, no Itaú BBA Macro Vision 2024.
Mesmo assim, Galípolo apontou que o Copom trabalha com um cenário-base em que há redução do impulso fiscal nos próximos meses. A autoridade, que recentemente teve sua indicação aprovada pelo Senado para ser presidente do Banco Central no ano que vem, disse saber que existe clareza dentro do Ministério da Fazenda sobre o que precisa ser feito em termos dos desafios relacionados à gestão da política fiscal.
Galípolo e Haddad
“Desde o início, Haddad vem reforçando sua visão de que política monetária e fiscal devam trabalhar em harmonia, como dois braços do mesmo corpo”, apontou. Assim, Galípolo vê que existem “dores” associadas ao processo de ajuste fiscal que decorrem da diferença de velocidade com que operam os mercados financeiros da velocidade política possível da política.
“Quanto mais o tempo passa, a ansiedade por notícias positivas começa a se tornar uma expectativa de que essas medidas [do fiscal] não vão se concretizar. Mas acompanho a obstinação e sei do compromisso do Fernando [Haddad] em entregar uma política fiscal sustentável e socialmente justa”, afirmou.
Segundo Galípolo, no entanto, a tarefa parece menos desafiadora para o Banco Central do que para o Ministério da Fazenda. “O Banco Central tem uma meta de inflação e a sua função de reação vai se dar pela meta. O Banco Central vai perseguir a meta de inflação”, disse a autoridade.
Galípolo reconheceu também que “existe uma visão mais consensuada dentro do Copom de que as políticas fiscais em vigor atualmente colaboraram para um nível de sustentação da atividade resiliente”.
Galípolo citou que, entre os fatores que o Copom está monitorando com atenção estão o mercado de trabalho, o hiato do produto migrando para o campo positivo, as surpresas de crescimento, um real em um patamar mais desvalorizado e o cenário internacional que tem exibido menor correlação entre as políticas monetárias.”
Ao fim do dia, dada a volatilidade, estamos dependendo de dados e mais reativos, dadas às surpresas que viemos observando”, afirmou.
Com informações do Valor Econômico