Após celebrar o fim do processo de recuperação judicial, que se arrastava há seis anos, o desafio da fabricante de telhas Eternit, agora, é evitar uma espécie de ressaca entre seus investidores.
Em entrevista para a Inteligência Financeira, os executivos da companhia apontaram os rumos para o que, esperam, será o caminho para ampliar a geração de caixa. E assim destravar o valor de seus papeis, o ETER3.
As ações da companhia, apesar do novo momento, seguem estacionadas abaixo de R$ 7, com queda acumulada de mais de 30% em 12 meses.
Capacidade ociosa da Eternit
Para Paulo Roberto de Andrade, CEO da Eternit, e Vitor Mallmann, CFO e diretor de relações com investidores da empresa, a meta de curto prazo será reduzir a capacidade ociosa de suas oito unidades fabris.
Dentro da recuperação judicial, a empresa desembolsou R$ 11 milhões para adquirir 100% de uma concorrente, a Confibra. Montou duas novas plantas, uma em Manaus e outra no interior do Ceará. Com isso, a capacidade de produção da empresa subiu de 60 mil para as atuais 100 mil toneladas mensais.
Mas a empresa ainda não aproveitou esse reforço de 40%.
“O primeiro ponto, agora, é rentabilizar esse investimento feito”, diz Andrade. “A gente tem que usar essa capacidade ociosa, hoje em mais de 40 mil toneladas”, diz. “Numa conta rápida, (é) um faturamento de uns R$ 40 milhões por mês que eu conseguiria colocar dentro das fábricas hoje em dia”, estima o presidente.
Queda da demanda
Para os executivos, o mercado de telhas encolheu nos últimos anos em decorrência de um excesso de demanda, principalmente em 2021.
Para eles, a distribuição do auxílio emergencial, durante a pandemia de Covid-19, adiantou alguns projetos de reforma. Sobretudo para os públicos C, D e E, alvos da companhia.
De lá para cá, apontam, o mercado vem corrigindo esse excedente, que se traduz em queda nas vendas do setor.
“O auxílio emergencial deu recursos na base (da pirâmide social) onde está nosso cliente final”, complementa Vitor Mallmann.
“Em um mercado hoje na faixa de 185 mil toneladas (de telhas), chegou a quase 380 mil toneladas (em 2021)”, diz o presidente da Eternit.
“A gente fala que o 21 adiantou muito a demanda. Em 22, caiu um pouquinho. Em 23 e 24, a gente está sofrendo ainda desse efeito. A gente acredita que 25, 26 a coisa volte ao normal”, projeta Andrade. “Parece que tem na mesa umas 40 mil toneladas que sumiram do mercado, mas podem voltar a medida que normaliza a demanda”, ele afirma.
Novos produtos da Eternit
Até pouco tempo atrás, os executivos da Eternit diziam que estudavam novos mercados, como o de pisos e azulejos.
Agora, no entanto, a empresa opta por reduzir o catálogo para se dedicar à produção atual. Ou o que é possível com a estrutura atual.
Uma aposta nessa linha é na categoria ainda incipiente de estruturas modulares, como divisórias, forros e pisos.
Segundo o presidente da Eternit, esses sistemas são pré-fabricados pelas mesmas máquinas que hoje fazem as telhas e devem crescer nos próximos anos.
“Vamos usar capacidade para fazer sistemas construtivos. É a grande aposta”, diz Paulo Roberto Andrade. “(Esse setor é) pequeno dentro da nossa venda, só que cresce 20%, 25%, 30% ao ano”, diz.
Aposta da Eternit em energia renovável
Outra possível vertical de produção da Eternit é o de sistema de energia renovável. Esse negócio vem sendo trabalhado pela empresa nos últimos anos. No entanto, os executivos revelam uma alteração nos planos.
Segundo eles, a aposta em telhas fotovoltaicas, que até então estavam no centro da estratégia para o futuro, se demonstrou com baixo potencial. Isso, devido aos custos e complexidades de instalação. No lugar, a empresa prepara o lançamento de um sistema de placas que captam raios solares e os transformam em energia elétrica.
“A gente continua com a telha. A gente tem dois tipos de telha de concreto, de fibrocimento que já tem a célula fotovoltaica ali fixada. Só que isso é um nicho. A gente entendeu, depois de três, quatro anos no projeto, que isso é menor do que a gente podia imaginar”, afirma o CEO da empresa.
“Hoje a gente tem um projeto que na verdade são painéis que você pode colocar em qualquer superfície” diz. “Seria muito mais adequado do que a própria telha” aponta.
Mina de crisotila da Eternit
Em 2018, a empresa entrou em recuperação judicial após o Supremo Tribunal Federal (STF) proibir o uso de amianto no país. Cancerígeno, o insumo era base para as telhas da Eternit, que tem uma mina de amianto na cidade de Minaçu, em Goiás.
Hoje, a empresa ainda opera na extração do insumo, que segue in natura para países do continente africano e sudeste asiático, principalmente a Índia.
A exportação de amianto, que segundo a companhia representa mais de 30% do faturamento anual, foi responsável por 55% da margem bruta da Eternit no primeiro semestre de 2024.
Ação no STF
No entanto, corre no STF uma ação ajuizada pela Associação Nacional dos Procuradores e Procuradoras do Trabalho (ANPT) que pede o fim do trabalho de extração de crisotila, o tipo de amianto manipulado pela companhia, na mina de Goiás.
O julgamento estava previsto para acontecer no dia 14 de agosto, mas foi adiado e, neste momento, não tem data para acontecer.
Questionados sobre isso, os executivos reconhecem que dois cenários são mais prováveis. A interrupção imediata dos trabalhos e uma decisão negociada, com prazo para encerrar a extração do insumo.
“A gente acredita que se houver o fechamento, eles vão buscar uma modulação que seja adequada, porque hoje você tem uma cidade que é Minaçu, que vive em função da mina.”, diz o presidente da Eternit, Paulo Roberto de Andrade.
Segundo ele, o município tem cerca de 30 mil habitantes. A mina emprega diretamente 450 trabalhadores, mas indiretamente entre 40% e 50% da população dependem da mina para sobreviver.
Durante a entrevista, os executivos contam que a empresa tem planos para o fechamento da mina e que estaria buscando, neste momento, uma destinação econômica para a área, no caso do fechamento imediato. “A gente gostaria de destinar toda aquela terra para alguma coisa que seja produtiva, até para manter empregos”, diz o presidente.
Nova recuperação judicial
Sobre o impacto financeiro, eles destacam que o encerramento da atividade deve levar a uma readequação da estrutura, mas descartam um segundo pedido de recuperação judicial.
“Isso está fora dos planos. Não vemos necessidade disso. Houve uma mudança na natureza do negócio, o negócio principal da companhia, que é a telha, que é a cobertura, gera caixa”, afirma o presidente da Eternit.