Entre 22 e 24 de agosto ocorre a edição 2024 do encontro anual de Jackson Hole, um evento que costuma ser importante para os mercados.
Mas o que é isso?
Trata-se de um simpósio econômico de fim do verão no Hemisfério Norte organizado pela unidade de Kansas City do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.
O simpósio recebe dezenas de banqueiros centrais, formuladores de políticas, acadêmicos e economistas do mundo todo e acontece em Jackson Hole, Wyoming.
Além disso, o presidente do Fed quase sempre fala no encontro.
Desta vez, a expectativa é de que o atual presidente, Jerome Powell, discurse na manhã de 23 de agosto.
O mercado normalmente se importa com Jackson Hole por dois motivos principais:
- ocorre durante o período mais longo entre reuniões do grupo de diretores do Fed, o Fomc
- acontece em um momento em que o mercado está geralmente tranquilo devido às férias de verão/outros eventos importantes limitados
Neste ano, há uma ansiedade maior dos investidores sobre a reunião, em busca de qualquer sinal sobre quando o juro nos EUA começará a cair.
Isso porque, desde julho do ano passado, a taxa básica norte-americana está na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano, maior nível em mais de 20 anos.
Após a última reunião do Fed, em julho, porém, Powell sinalizou que o assunto corte de juros estava se aproximando.
Isso permitiu uma valorização de ativos de maior risco, como ações, enquanto moedas de países emergentes, como do Brasil, subiram ante o dólar.
Assim, em Jackson Hole o Fed pode fornecer orientação atualizada sobre política monetária antes da reunião de setembro.
Houve momentos em que o Fed sinalizou intenções atualizadas para os mercados e o público.
O Fed sempre faz notícia em Jackson Hole?
Nem sempre. O Fed geralmente tende a manter um perfil mais moderado em Jackson Hole, já que não se trata de uma reunião oficial do órgão.
Mas na edição de 2022, Powell fez comentários sobre a necessidade de restaurar a estabilidade de preços.
Dessa forma, isso foi interpretado como comprometimento em levar a luta contra a inflação até o fim.
O discurso foi importante mais por seu tom agressivo do que por indicar que a política monetária estava prestes a mudar.
Isso porque o ciclo de alta dos juros já havia começado.
O que esperar da edição deste ano?
Segundo o Bank of America, o mais provável é Powell reforce a visão da situação econômica que ofereceu na reunião do Fomc de julho.
Naquela oportunidade, ele sugeriu que o comitê estava “muito perto” de uma flexibilização monetária. Ou seja, um corte, mais provavelmente de 0,25 ponto percentual.
Um sinal adicional poderia ser se Powell dizer que o comitê quer evitar “fraqueza inesperada” no mercado de trabalho, em vez de simplesmente responder a ela depois que ocorra.
Por que isso é importante?
O início do ciclo de flexibilização poderia ser visto como uma declaração de vitória sobre a inflação, embora o Fed não diga isso publicamente.
Afinal, a definição do Fed de atingir um pouso suave é levar a inflação de volta à meta sem exigir uma deterioração nas condições do mercado de trabalho.
“A batalha contra a inflação não foi totalmente vencida, mas a mensagem pode ser que o trabalho está quase pronto, onde a ênfase agora estará em prevenir uma fraqueza indesejada no mercado de trabalho”, acrescentou o Bofa.
Qual é a reação esperada do mercado em Jackson Hole?
O mercado espera que o Fed sinalize que o próximo movimento será um corte, mas que o tamanho e o ritmo dependerão dos dados.
Se Powell falar isso, o mercado provavelmente antecipa uma mensagem que sugere que um corte de taxa será apropriado na próxima reunião, mas que o tamanho e o ritmo serão determinados pelos dados de inflação e atividade.
O mercado precificou bem esse resultado e esses sinais provavelmente não surpreenderão.
O mercado provavelmente não espera um movimento de 0,5 ponto percentual.
Se, porém, Powell não sinalizar um corte de taxa na reunião em setembro ou que um ciclo de cortes da taxa está fora de questão, isso pode fazer o dólar voltar a subir ante outras moedas, como o real.
Isso poderia fazer as taxas futuras subirem.
Ainda assim, o Bofa avalia que valeria a pena para o investidor comprar ativos de risco, aproveitando a queda.
Isso porque os dados de atividade econômica nos EUA estão mostrando desaceleração, o que permite que o Fed corte o juro em setembro.
Quais podem ser os impactos no câmbio
Ainda segundo o Bofa, o mercado cambial já está precificando quatro cortes de taxas do Fed para este ano, com o dólar se enfraquecendo.
Isso por causa da desaceleração no mercado de trabalho e da inflação.
“Será difícil para Powell contrariara o mercado e não vemos uma razão pela qual ele tentaria fazer isso”, disse o banco no relatório.
Porém, o documento considera que o presidente do Fed manterá a opção de corte mais agressivo da taxa, a depender dos dados antes da reunião de setembro.