Após meses de especulação, o mercado agora parece estar em consenso sobre os juros em queda nos EUA e uma redução da taxa na próxima reunião do Federal Reserve, entre 25 e 50 pontos base. Essa mudança na política monetária americana pode ter impactos profundos para investidores em todo o mundo, e mais especialmente em mercados emergentes, como o Brasil. O sinal pode ser de otimismo para investimentos mais arriscados, como a renda variável, mas é preciso cautela, pois o cenário tem diferentes forças.

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O mundo todo de olho nos EUA

Mario Nevares, sócio e gestor de portfólios offshore da G5 Partners, aponta que as taxas de juros americanas exercem uma influência direta no fluxo de capital global.

“O mundo todo está de olho nas taxas de juros americanas, e boa parte do fluxo de capital para o Brasil depende muito do que acontece lá fora”, explica Nevares. Ele acredita que a esperada redução das taxas nos EUA será positiva para mercados emergentes, como o Brasil, especialmente com a inflação controlada e uma economia ainda em crescimento.

“Esse movimento vai ajudar. Com a inflação nos EUA mais comportada e uma economia ainda crescendo, será muito bem-vindo para mercados como o Brasil”, acrescenta.

João Sá, co-head de Investimentos da Arton Advisors, concorda que a queda nas taxas de juros dos EUA pode favorecer o fluxo de capital para mercados emergentes.

“Quando você pensa em qualquer país emergente, o que deve ser observado é o diferencial da taxa de juros entre esse país e os Estados Unidos”, ressalta Sá. Ele aponta que, com a queda dos juros americanos, haverá mais recursos disponíveis para outras regiões e tipos de investimento. “A mudança de direção dos juros já é um sinal muito importante para o fluxo de capital no Brasil. Talvez esse movimento já tenha começado, até porque a bolsa registrou captação líquida positiva de investidores estrangeiros nos últimos meses”, explica.

Esse possível aumento no fluxo de capital estrangeiro pode ter como destino o mercado de renda variável. Depois de meses de saída líquida de estrangeiros na B3, em julho e agosto, o saldo de estrangeiros na bolsa brasileira foi positivo, com R$ 3,55 bilhões e R$ 10,01 bilhões, respectivamente.

Para Nevares, a queda dos juros nos EUA pode ser um estímulo para o mercado de ações brasileiro, embora os efeitos não sejam imediatos. “O cenário se torna mais positivo para a bolsa. Temos ótimas companhias listadas que podem se valorizar. Podemos ver um aumento de fluxo, mas ele pode não vir de uma vez só”, pondera.

Ele também destaca que a bolsa brasileira, em comparação com outras bolsas internacionais, está mais descontada e pode oferecer boas oportunidades. “Nossa bolsa, comparada às internacionais, está mais barata, com margem de valorização. Mas precisamos de gatilhos, que sinalizem o início de uma tendência de alta”, explica. No entanto, Nevares lembra que o desempenho da bolsa brasileira não depende apenas do cenário externo. Ele também está atrelado a fatores internos, com destaque para a situação fiscal do país.

Sá complementa, observando que investidores estrangeiros estão mais seletivos em relação aos ativos que escolhem. “No passado, o investidor americano, ao entrar no Brasil, comprava o índice inteiro. Hoje, eles estão mais seletivos, abandonando setores como a mineração, pressionada pelo momento da China, e focando em áreas como bancos e utilities“, conclui.

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