Após meses de hesitação, o governo da China resolveu intervir nos rumos da segunda maior economia do mundo. Anunciou um forte pacote de medidas e o mercado, sem dúvida nenhuma, reagiu com muita animação à novidade.
Nesta semana, o banco central chinês anunciou um pacote de estímulos, que entre outras coisas reduziu os depósitos compulsórios dos bancos. As lideranças do governo (Politburo) vieram à reboque com estímulos fiscais, monetários e algumas promessas. Entre elas, a que não faltará dinheiro – e empenho – para endireitar a economia do país, que há pelo menos três anos vem com problemas.
O conjunto de medidas eletrizou os investidores.
O principal índice de ações de Xangai (SSE Composite Index) fechou esta sexta-feira (27) em alta semanal acumulada de 13%. Foram os últimos cinco melhores dias úteis para o índice desde novembro de 2008. O resultado encerrou meses ininterruptos de sangria das ações chinesas.
Na Europa, as empresas que vinham sofrendo com as fracas vendas para os chineses também comemoram a semana.
Marcas de luxo, amadas pelos asiáticos, como LVMH, Christian Dior e Kering, dispararam em suas respectivas bolsas. Assim como as montadoras alemãs Mercedes-Benz e BMW.
Assim como, aqui no Brasil, a quinta-feira (26) foi o dia da Vale (VALE3), fornecedora de minério de ferro também para a China. Com os preços da commodity em alta, as ações da companhia dispararam e fecharam e alta de 6,01%. No acumulado da semana, o VALE3 já sobe 10,34%, acrescentando R$ 30,5 bilhões ao valor de mercado da mineradora.
Como é o pacote da China
Nesta semana, o Banco Popular da China (PBoC, o equivalente ao banco central) cortou a taxa de juros em sua linha de crédito de médio prazo de um ano em 0,30 ponto percentual (p.p.), indo de 2,3% para 2% ao ano.
Ao mesmo tempo, o BC chinês cortou a taxa de juros dos acordos de recompra reversa de sete dias (o reverse repo), principal instrumento de política monetária do país, em 20 pontos-base, alcançando 1,5%. Essa é a taxa empregada para fixar os empréstimos do pais.
No âmbito fiscal, o governo reduziu a quantidade de depósitos compulsórios dos bancos em 0,5 p.p, trazendo as reservas obrigatórias para 6,6%. Segundo estimativas do Wall Street Journal, a medida deve injetar 1 trilhão de yuans na economia via empréstimos diretos.
O que pode acontecer?
Ainda é cedo para dizer se o esforço pode gerar resultados de médio a longo prazos.
Sem dúvida, para o Brasil, uma melhora na economia chinesa significa boa notícia para ações de empresas como Vale, CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4). Além de produtores de proteínas, como JBS (JBSS3) e Minerva (BEFF3).
Mas o avanço da China também acrescenta pressão inflacionária ao mundo, um problema para o Brasil que luta para segurar suas expectativas de IPCA de médio e longo prazos.
Perguntas sem respostas
No entanto, moderando as esperanças sobre o estímulo, ainda há perguntas sem resposta sobre quanto Pequim está disposta a gastar — e especialmente quanto está preparada para colocar nos bolsos dos consumidores chineses.
As autoridades também ainda não explicaram como planejam acabar com a crise imobiliária do país, ponto central para ajustar a economia de maneira mais sólida.
Outros grandes problemas persistem. Relatório do Bank of America (BofA) destaca que a força de trabalho da China está envelhecendo e encolhendo, enquanto a capacidade industrial crescente está alimentando as tensões comerciais no exterior e espremendo os lucros e os preços.
As finanças do governo local estão sob forte pressão e os bancos estão sentindo a pressão de empréstimos ruins e margens de lucro esmagadas. O setor privado do país foi intimidado por repressões em setores outrora florescentes, como tecnologia e educação.
O resultado é que, mesmo que Pequim consiga uma recuperação de curto prazo, a China enfrenta uma longa caminhada de crescimento. Ao Brasil, cabe apenas se sentar e esperar.