O ciclo de alta da Selic iniciado pelo Banco Central em setembro representa um desafio para as empresas de varejo, construção e de locação de veículos, nota o banco BTG Pactual. Os analistas mapearam quais ações estão mais sensíveis ao aumento dos juros no Brasil, assim como as que mais ganham nesse cenário.
No Ibovespa, por exemplo, o BTG enxerga varejistas como mais expostas. São elas: Magazine Luiza (MGLU3), Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e Casas Bahia (BHIA3). Mas algumas empresas do setor de construção, como Helbor (HBOR3) e JHSF (JHSF3) possuem, no momento, alto grau de dívida indexada à Selic. Ou seja, a cada vez que ela sobe, maior a pressão sobre o débito corrente e lucro das empresas.
No varejo, Magazine Luiza (MGLU3) é mais sensível à alta da Selic
De acordo com o relatório do BTG Pactual, dentre as varejistas de capital aberto, existe uma que possui 100% de sua dívida total ligada à Selic.
Assim, o Magazine Luiza (MGLU3) é quem mais sofre com o ciclo de alta da Selic no Brasil. A empresa é a mais alavancada do setor entre as analisadas pelo BTG, com dívida equivalente a 3,7 vezes o lucro operacional. Ou seja, o débito corrente da varejista equivale a cinco EBITDAs (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
A Lojas Quero-Quero (LJQQ3) também tem toda sua dívida exposta aos juros, mas a alavancagem é menor que a do Magalu. A varejista de materiais de construção e eletrodoméstico está 2,5 vezes alavancada sobre o próprio EBITDA.
Já a Casas Bahia tem 91% de sua dívida indexada à Selic, enquanto a alavancagem financeira atual corresponde a 3,3 vezes o lucro de sua operação.
“Alguns varejistas, especialmente varejistas de alimentos, eletrônicos e eletrodomésticos, têm alavancagem relativamente alta e a grande maioria de suas dívidas está atrelada à taxa Selic”, dizem analistas do BTG.
A alavancagem média de uma empresa da bolsa, segundo o BTG, é de 1,8 vezes/EBITDA.
No varejo alimentício, o Pão de Açúcar se encontra em situação mais sensível à alta de juros. A rede de supermercados tem 96% de sua dívida ligada à Selic, com a maior alavancagem entre pares medida pelo BTG, de 3,8 vezes o lucro operacional.
Já o Grupo Mateus (GMAT3) tem a situação mais confortável, diz o BTG. A empresa fundada por Ilson Mateus possui alavancagem financeira menor, de 2,3 vezes, e exposição de 32%.
Quais construtoras estão mais expostas aos juros?
Nas contas do BTG Pactual, são três as construtoras e incorporadoras de alto luxo mais sensíveis ao eminente ciclo de alta da Selic.
Entre as construtoras mais prejudicadas pela alta da Selic estão JHSF (JHSF3), Helbor (HBOR3) e Mitre (MTRE3), segundo o BTG.
No caso da dona do shopping Cidade Jardim e de outros empreendimentos de luxo, a maior parte da dívida, cerca de 76%, está indexada aos juros.
A alavancagem da JHSF também é a maior entre os pares listados pelo BTG, de 5,7 vezes o lucro operacional.
Logo em seguida, a MRV (MRVE3), construtora de Rubens Menin focada em empreendimentos de médio e baixo padrão, possui alavancagem de 4,3 vezes o EEBITDA. No entanto, a dívida da companhia sofre menos impacto com a alta da taxa básica de juros, já que apenas 40% do estoque está exposto ao juros.
Um cenário mais delicado é o da Helbor (HBOR3). Também de alto padrão, 60% do débito da construtora está ligado aos juros, enquanto a alavancagem é de 5,0 vezes o EBITDA.
O BTG elencou ações de empresas que tendem a sofrer menos com a alta da Selic.
Alguns nomes do setor de tecnologia e construção se encontram na condição de caixa líquido, ou seja, cujo fluxo após a saída de dinheiro gasto com despesas permanece positivo.
Dentro do setor de tecnologia, o BTG cita as seguintes ações que ganham em um cenário de juros mais altos: Intelbras (INBR3), Totvs (TOTS3) e Locaweb (LWSA3).
“É interessante destacar algumas empresas de grande valor de mercado que estão com caixa líquido positivo. A lista incluiria WEG, Ambev e B3”, completa o relatório.
No setor de construção, as ações que se beneficiam com a alta da Selic são Cury e Plano&Plano, assim como as companhias de tecnologia, têm caixa líquido. A Direcional (DIRR3) “basicamente não tem dívidas”, conforme aponta o BTG, enquanto a Tenda (TEND3) deve reduzir a alavancagem de 1,1 para 0,5 em 2025.
Além disso, houve “grande melhoria nos balanços das construtoras de baixa renda”, dizem analistas.
“Estas empresas se beneficiaram muito das melhores regras do programa habitacional de baixa reanda do Brasil (Minha Casa, Minha Vida) e reduziram endividamento de forma relevante.”