A Braskem (BRKM5) avalia uma potencial redução ou fechamento de capacidade produtiva no Brasil se os desafios competitividade enfrentados atualmente persistirem, indicou o presidente da companhia, Roberto Bischoff.

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Além do pior ciclo de baixa vivido pela petroquímica global, a indústria brasileira enfrenta dificuldades relacionadas ao maior custo de matéria-prima e custos estruturais mais elevados do que os produtores instalados em outras regiões.

“Estamos avaliando, em termos de longo prazo, qual é a capacidade de recuperar o nível de operação ou então a melhor maneira para isso. É uma agenda sim, algo que ninguém busca ou prefere como solução, mas às vezes não tem outra opção”, afirmou, ao ser questionado sobre a possibilidade de a Braskem fechar unidades produtivas no país ou adotar outras medidas de redução de capacidade.

Conforme o executivo, a companhia vem operando com taxas de cerca de 70% no país quando deveria rodar acima de 85%, até 90%, para trazer o retorno adequado. “No caso de prolongamento dessa situação, [a readequação de capacidade] é uma análise que estamos fazendo, que a indústria está fazendo”, acrescentou.

De abril a julho, as centrais da Braskem no país registraram taxa média de ocupação de 71%, queda de três pontos percentuais frente ao primeiro trimestre, refletindo também a suspensão das operações no Rio Grande do Sul por quase um mês, devido às enchentes que atingiram o Estado. Na comparação anual, a queda foi 1 ponto percentual.

“O Brasil segue em situação desafiada”, disse o vice-presidente de finanças, suprimentos e relações institucionais da Braskem, Pedro Freitas. “A taxa de ocupação mostra que a situação de competitividade do Brasil, em relação ao mundo, não permite rodar as plantas locais em patamar saudável. São quase 20 pontos abaixo desse patamar.”

O Brasil tem assistido a um crescimento acentuado das importações de produtos químicos e petroquímicos, incluindo resinas termoplásticas, em meio ao excesso de oferta no mercado global e da adoção de medidas de defesa comercial por diferentes países, deslocando volumes adicionais para os mercados que ainda não se protegeram, explicou Freitas. “O Brasil ainda não adotou medidas efetivas nesse sentido em petroquímica”, afirmou.

Nesse ambiente, a Braskem, junto com a Unipar, entrou em junho com um pedido de revisão da tarifa antidumping aplicada às importações de PVC dos Estados Unidos, que em 2022 foi reduzida de 16% para 8,2%. O pleito é elevar a tarifa atual, uma vez que houve crescimento das compras externas da resina produzida em solo americano.

De acordo com o executivo, os programas do governo federal de estímulo à indústria brasileira, como o Nova Indústria, representam oportunidades para que o setor obtenha algum apoio, mas ainda são necessárias medidas específicas para a indústria, umas que ataquem o curto prazo e outras que contemplem o longo prazo.

“A indústria petroquímica está vivendo uma situação muito específica com o excesso de oferta global, porque Estados Unidos e Oriente Médio têm acesso a matéria-prima com diferencial muito grande de custo”, comentou, acrescentando que, em alguns casos, há questionamentos quanto às práticas comerciais.

Na China, também houve aumento substancial da capacidade instalada na indústria petroquímica, que não tem sido absorvido pelo mercado doméstico, contribuindo para a sobreoferta global.

Diante disso, produtores ao redor do mundo já fecharam fábricas ou estão avaliando medidas similares, como a LyondellBasell, que recém-anunciou que vai revisar, do ponto de vista de competitividade, seus ativos na Europa.

Na avaliação da Braskem, os bancos públicos, incluindo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), poderiam desempenhar papel importante de suporte à indústria petroquímica.

Olhando para o curto prazo, a indústria já pediu a elevação temporária das tarifas de importação de algumas dezenas de produtos, mas ainda não foi atendida.

O setor pede também a revisão do Regime Especial da Indústria Química (Reiq), que hoje prevê um benefício fiscal de apenas 0,7% sobre matérias-primas de primeira e segunda geração, comparável a 8,25% há pouco mais de uma década, quando o programa foi instituído.

Com informações do Valor Econômico

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