O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central preferiu uma comunicação que reforça o compromisso com a convergência da inflação à meta e o abandono de futuras indicações sobre o destino da Selic. A Ata da 265ª reunião do Copom, divulgada nesta terça-feira (24), revela que todos os membros do colegiado votaram a favor do início do ciclo de alta da taxa de juros de forma gradual.

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O Copom discutiu em reunião que mesmo diante de um cenário de desinflação o IPCA continua acima da meta no chamado “horizonte relevante” da autoridade.

Isto é, o índice de preços amplos acumulado em 12 meses para o primeiro trimestre de 2026 é de 3,5%, acima da meta do BC, de 3%. Economistas dizem que o BC passa, assim, a ver um cenário mais desafiador para impor efeitos dos juros altos sobre a inflação.

A Ata do Copom foi vista por economistas do mercado financeiro como mais um passo do Banco Central em busca de uma política monetária mais estrita. Isso porque a autoridade manteve o tom duro, ou hawkish, do comunicado, com ênfase em levar a inflação à meta.

Na última quarta-feira, o colegiado elevou a Selic a 10,75% ao ano.

Segundo projeções do BC, a inflação para 2024 (4,3%), 2025 (3,7%) e pelo primeiro trimestre de 2026 (3,5%), seria o principal motivo para elevar juros no momento.

Além disso, expectativas desancoradas de IPCA e taxa de câmbio elevada também pressionam os preços nacionais.

Soma-se a isso um mercado de trabalho com “dinamismo maior que o esperado” e um hiato do produto – potencial de crescimento da economia com potencial de elevar a inflação – que deixou o campo neutro para o positivo.

“Reforçou-se, ademais, que um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica”, diz o Copom na ata.

A análise do economista da ConfianceTec, Julio Hegedus Neto, a ata prepara terreno para uma condução mais restritiva de política monetária.

“Avaliou-se (na ata do Copom) que o cenário prospectivo da inflação se tornou mais desafiador”, diz Hegedus. “Mesmo condicionada a uma taxa de juros elevada”, completa.

De olho no fiscal

O Copom também comunicou na ata que “monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal”.

O comitê reforçou que “uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados são importantes” na ancoragem de expectativas de inflação e prêmios de risco que afetam a condução da Selic.

“Em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos”, afirma.

Reação dos mercados à ata do Copom

O ASA não alterou projeções de juros com a divulgação da ata do Copom. De acordo com Leonardo Costa, economista da gestora, o documento foi visto como “neutro” diante da “surpresa hawkish“.

“O texto foi pouco enfático sobre o ritmo de alta da Selic nas próximas reuniões e se colocando dependentes dos dados”, afirma Costa.

“A Selic deve encerrar, assim, em 12% ao ano.”

Esta também é a aposta do Banco ABC Brasil. Tomás Alves de Almeida, do departamento de economia, reitera que a Ata deixa em aberto a condução da política monetária. Ele afirma que o ABC Brasil prevê dois aumentos consecutivos de 50 bps em novembro e dezembro, nas duas últimas reuniões do Copom em 2024.

Em janeiro de 2025, mais um aumento, mas desta vez de 25 bps, levando a Selic a 12%.

Foi uma ata bem realista, sinalizando continuidade do aperto monetário”

Julio Hegedus Neto, economista da ConfianceTec

Para o mercado, a resposta deve ser negativa. A avaliação é de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

“Avaliamos que os mercados devem reagir a um ciclo intenso de política monetária. Isso à medida que, frente a um compromisso inexequível, o BC deve baixar a régua ainda neste ano”, comenta Sanchez.

A Ativa também prevê uma alta da Selic até 12%.

Confira a Ata do Copom na íntegra.

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