A Hypera (HYPE3) rejeitou mesmo a oferta de compra da rival EMS ou está só em busca de um melhor preço para aceitar conversar?
Segundo analistas, a despeito da negativa da Hypera, o noticiário envolvendo a possível fusão deve ser o principal guia para as ações da companhia.
“Acreditamos que é natural que o conselho exija um prêmio mais alto”, afirmou o Citi em relatório desta quinta-feira (24).
De fato, essa parece ter sido a opinião majoritária do mercado, uma vez que HYPE3 fechou o dia em alta de 1,5%.
Companhia rejeita EMS
Pela manhã, a farmacêutica divulgou fato relevante rejeitando a oferta apresentada na segunda-feira (21) pela EMS.
Na proposta, a EMS quer comprar uma fatia de até 68% da Hypera, a R$ 30 por ação.
Dessa forma, a oferta implica prêmio de cerca de 10% sobre o preço de fechamento do pregão anterior na B3.
A Hypera classificou a oferta da EMS como hostil, alegou que as empresas têm perfis diferentes, tanto de mercados quanto de governança (a primeira é listada e a EMS tem capital fechado).
Para especialistas, porém, a última alegação, a de que “a avaliação atribuída à empresa na proposta subestima significativamente a avaliação da Hypera” é a que mais chama a atenção.
Isso porque a alegação pode ser interpretada como sinal de que a empresa alvo pode não ser conceitualmente contra a fusão, mas quer melhores condições.
Hypera (HYPE3) e EMS discutiram fusão em 2022
Nesse sentido, o episódio desta semana não é novidade. Hypera e EMS já discutiam união entre ambas em 2022.
Na época, os controladores da Hypera não aceitaram prosseguir com as conversas porque não aceitaram ter menos de 50% do negócio combinado.
Desta vez, a proposta da EMS chega num momento em que a rival está particularmente enfraquecida.
Apenas três dias antes da oferta, a Hypera havia anunciado:
- Suspensão das previsões de desempenho para 2024;
- Resultados preliminares do 3º trimestre abaixo das expectativas do mercado;
- Redução dos prazos de pagamento concedidos aos clientes
Por isso, sentindo que a EMS estaria se aproveitando de um momento de fragilidade da concorrente, o fundador e principal acionista da Hypera, João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, deu mostra de força: convenceu os nove membros do conselho de administração a rejeitarem a proposta rival unanimemente.
Contudo, também em relatório, o Bradesco BBI afirmou que esse movimento pode ser mais uma tentativa de conseguir melhores condições de negociação.
Fundador da Hypera (HYPE3) é negociador experiente
Isso não significa que a EMS terá uma conversa fácil. Júnior, o fundador da Hypera, é um negociador experiente.
Antes conhecida como Hipermarcas, a Hypera começou como varejista mais genérica, vendendo produtos de beleza, conservantes e fraldas em operações separadas.
Em 2015, a empresa começou a vender unidades, incluindo as de beleza, de absorventes e fraldas. No fim, vendeu a divisão de cosméticos para a Coty por R$ 3,8 bilhões.
A partir de então se consolidou como uma das maiores farmacêuticas do Brasil.
Nos últimos anos, porém, a Hypera vem perdendo tração.
Segundo o Santander, a margem Ebitda da Hypera, um indicador de lucratividade muito apreciado por analistas, caiu de 37% para 30% de 2019 a 2024.
Num exercício dos analistas do Santander, com os ganhos de sinergias de uma fusão esse indicador poderia ser retomado até 2027.
E Júnior sabe disso. No entanto, o empresário tem cartas na manga.
A Hypera, por exemplo, tem benefícios de perdas fiscais acumuladas, ágio que gera taxa de imposto muito baixa para a empresa, pontuou o Santander.
Assim, seria um caminho melhor para a EMS oferecer melhores condições para o atual acionista de referência do que partir para o ataque, tentando uma abordagem direta com os demais acionistas da Hypera que tem quase 60% das ações no mercado.