Mesmo sob efeito da tragédia climática no Rio Grande do Sul, o PIB do segundo trimestre de 2024 deve crescer entre 0,8% a 1% na comparação com o dado de janeiro a março. Na visão de economistas, o dado a ser divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na próxima terça-feira deve sinalizar, sobretudo, aumento da taxa Selic em setembro.

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Na visão de especialistas e bancos, a demanda doméstica aquecida liderada pelo consumo das famílias e investimentos deve reforçar um aperto na condução do Banco Central para domar a inflação rumo à meta de 3%, dentro de uma economia a todo vapor. Assim, o mercado já prevê o início de um ciclo de alta de juros que pode arrefecer a economia no segundo semestre.

O que esperar do PIB do 2º trimestre?

O PIB do segundo trimestre deve apresentar forte crescimento dos setores de serviços, indústria e comércio. Dados de produção e vendas dessas áreas da economia foram surpreendentes entre março e junho, aponta David Beker, economista do Bank of America.

O BofA aponta que houve forte ritmo de atividade, à medida em que vendas de automóveis dispararam. A confiança das empresas também aumentou. O indicador de atividade interna da economia brasileira do Bank of America, semelhante ao IBC-Br, saltou de 0 para 0,24 no período.

Apesar de a taxa real de juros estar próxima de 6%, o efeito da queda dos juros foi dissipado pela economia no primeiro semestre, o que levou à surpresa positiva no PIB. É o que diz Beker.

“O mercado esperava um efeito negativo vindo do desastre natural do Rio Grande do Sul (RS)”, pondera. “Mas dados econômicos de junho vieram acima do esperado, especialmente sobre a indústria.”

A indústria é um dos segmentos que devem crescer acima do observado no trimestre anterior. A economista Marina Garrido, do Itaú Unibanco, projeta expansão de 3,2% do setor no PIB do segundo trimestre, ante 2,8% entre janeiro e março.

Ainda do lado da oferta, o setor de serviços deve registrar crescimento anual de 2,8% no segundo trimestre, segundo o Itaú.

“O setor de serviços representa pouco mais de 60% do PIB”, afirma Tatiane Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital. “Se no ano passado tivemos um PIB forte porque quem puxou foi o agronegócio, neste ano o que vem impulsionando o crescimento são serviços e indústria”, completa.

A Galapagos espera alta de 0,9% no PIB do segundo trimestre em relação ao primeiro.

Atividade deve continuar forte do lado de consumo doméstico

Por outro lado, o mercado de trabalho aquecido e em mínima histórica no Brasil deve levar a uma surpresa no consumo das famílias no PIB do segundo tri.

Estimativas do Itaú apontam que a demanda das famílias nos lares deve mostrar um crescimento de 4,4% no dado mensal e de 4,8% ante o segundo trimestre do ano passado.

“O impulso vem pelas concessões de crédito, que têm apresentado ritmo forte de crescimento (especialmente para pessoa física) e pelo aumento da renda, que sustentaram os gastos das famílias”, diz Garrido.

Investimentos devem manter a toada de crescimento positiva do primeiro trimestre, afirma Pinheiro. Conforme a economista, o ganho setorial deve ser sustentado pela injeção de dinheiro em bens de capital, como aparelhos de tecnologia da informação e maquinário.

Um dos pontos negativos no PIB do segundo trimestre, dizem economistas, será o aumento de importações. O crescimento deve pesar ainda mais na balança comercial, aponta Roberto Pavanato, economista-chefe do Banco Votorantim.

O recado sobre o futuro da Selic

Se a economia acelerou nos primeiros seis meses de 2024, o mercado já espera um esfriamento na segunda metade do ano. Isso porque, entre economistas, a expectativa é de que o BC aumente a Selic em setembro, como resposta à dificuldade de baixar a inflação rumo à meta de 3%.

No IPCA-15 de julho, a inflação anualizada baixou de 4,45% para 4,35%. Já o Boletim Focus aponta para um IPCA de 4,25% até o final de 2024.

Apesar de olhar um cenário mais amplo que o PIB, o BC deve chegar a duas conclusões a partir do dado a ser divulgado na próxima terça, na avaliação de Pavanato.

“A primeira é de que o desafio para desinflacionar a economia será maior”, diz. “Notamos que inflação vem oscilando entre 4% e 4,5% desde o ano passado. O crescimento forte implica em mais desafios para se colocar a inflação no centro da meta.”

“A segunda é de que se a economia está crescendo e a inflação está fora da meta. Portanto, de que o nível de juros atual é insuficiente para baixar a inflação”, completa.

Para o economista do Banco BV, setembro dará início a um ciclo de alta de 1 ponto percentual na Selic. “Ao longo das próximas quatro reuniões, a Selic deve chegar e 11,50%”, conclui Pavanato.

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