De acordo com o Comité de Basileia, os bancos que interagem com sistemas DLT ou blockchains públicos estão expostos a novos riscos para as suas atividades. Estes riscos têm a ver com aspectos relacionados com segurança, regulatórios, governança, operacionais e tecnológicos. Desta forma, apesar da experiência dos bancos na gestão de riscos, a utilização de blockchains públicas exigirá diferentes estratégias, métodos e soluções para contrariar estes novos desafios, acrescentou o Comité.
BASEL ESTÁ PREOCUPADA COM A EMISSÃO DE STABLECOINS E DEPÓSITOS TOKENIZADOS PELOS BANCOS
Bancos blockchains públicas Basilea
O órgão de fiscalização bancária, parte do Banco de Compensações Internacionais (BIS), definiu blockchains públicos ou sem permissão como aqueles que não limitam quem pode participar do processo de consenso usado para validar transações e dados, tornando-os descentralizados entre partes desconhecidas. Em geral, blockchains públicos são redes como Bitcoin, Ethereum ou Solana.
O Comité, na sua relatóriodivide os novos riscos para os bancos em categorias principais:
- Riscos de governança: A natureza inerentemente descentralizada dificulta a prestação de contas e a responsabilidade, complicando a capacidade dos bancos de conduzir uma devida diligência eficaz. O relatório acrescenta desafios de governação, tais como gestão de mudanças de rede, através de atualizações ou bifurcações, mecanismos de governação offchain e concentração de poder.
- Riscos tecnológicos: Na parte tecnológica, os riscos concentram-se em possíveis vulnerabilidades, como ataques de 51%, dependência de terceiros desconhecidos e outras fragilidades como ataques de negação de serviço (DoS) ou vulnerabilidades em contratos inteligentes.
- Riscos legais e conformidade: O relatório observa que os blockchains públicos complicam o cumprimento de regulamentações como o combate à lavagem de dinheiro (AML) e ao combate ao financiamento do terrorismo (CFT). Além disso, menciona outros problemas para os bancos, como as taxas de gás que acabam nas mãos de entidades ilícitas, abrindo a porta para um novo tipo de risco de compliance. São também mencionados problemas ligados a liquidações probabilísticas e à falta de privacidade e confidencialidade.
- Riscos adicionais: O Comitê observa possíveis problemas de liquidez em tempos de crise, mau desempenho das transações e mudanças nas leis ou políticas que afetam os criptoativos, como proibições ou restrições à mineração de criptomoedas, que podem desestabilizar as blockchains.
DIFERENÇAS ENTRE BLOCKCHAINS PÚBLICOS E PRIVADOS
Mitigar riscos
Com a intenção de enfrentar estes desafios, o Comité aponta diferentes formas de mitigação de risco que os bancos podem empregar. Um deles é o uso de Planejamento de Continuidade de Negócios (BCP)o que sugere que os emissores de ativos em blockchains públicos tenham um registro fora da cadeia para recuperar ativos em caso de interrupções, ataques ou bifurcações. Além disso, considere designar uma cadeia de contingência (outra blockchain) para migrar ativos se a rede principal falhar.
O relatório destaca como possível mitigação uma maior controle sobre partes e transaçõesusando contratos inteligentes para limitar o acesso do usuário, com listas negras (não permitidas) e listas brancas (permitidas). Esta prática ajudaria a mitigar os riscos de conformidade. Também menciona a configuração de contratos inteligentes para bloquear e reverter transações.
Por último, para mitigar os riscos associados à privacidade, confidencialidade e proteção do consumidor, o Comité avalia diferentes soluções. Por exemplo, o provas de conhecimento zero e criptografia homomórfica para privacidade e proteção de informaçõescom sua execução em redes de segunda camada ou Camada 2 para priorizar a confidencialidade.
O estudo conclui que Os bancos precisam de abordagens adicionais para mitigar os riscos associados ao uso de blockchains públicos. Da mesma forma, afirma que as iniciativas e soluções tecnológicas focadas na mitigação destes riscos ainda estão em desenvolvimento e não foram testadas em situações de estresse. Em última análise, os bancos terão de examinar continuamente novas soluções e os seus potenciais benefícios.
BLOCKCHAIN PRIVADO: CASOS DE USO
Blockchains públicas vs blockchains privadas
O relatório do Comitê da Basileia chega em um momento em que surgem muitas dúvidas sobre o uso de blockchains públicos por empresas, bancos e instituições financeiras. Tanto para iniciativas envolvidas com ativos digitais quanto com tokenização com tecnologia blockchain. Ao mesmo tempo, a tendência no uso de blockchains privados está aumentando.
Semanas atrás, uma pesquisa da International Securities Services Association (ISSA) detalhou como a adoção de ativos digitais e blockchain está aumentando entre as principais empresas financeiras do mundo. No entanto, este trabalho também constatou crescimento no uso de blockchains privados. A pesquisa destacou que 65% das iniciativas de ativos digitais em 2024 estão sendo executadas com blockchain privado como infraestrutura. O que representa um crescimento de 10% em relação a 2023.
Um exemplo é o gigante financeiro Goldman Sachs, que prepara o lançamento de três fundos tokenizados nos Estados Unidos e na Europa até 2024. A entidade financeira indicou que promoverá todos os seus produtos tokenizados utilizando blockchains exclusivamente privadas ou autorizadas.
Durante uma audiência no Congresso dos EUA, foi discutido o uso de blockchains públicos por empresas financeiras e sua capacidade de garantir o cumprimento das regulamentações. Foi também discutida a sua utilização como instrumento para fugir a sanções e facilitar o branqueamento de capitais.
Apesar destas acusações, Carlos Domingo, CEO da Securitize, plataforma líder em tokenização, garantiu que Blockchains públicos como Ethereum são perfeitamente capazes de cumprir suas obrigações como entidade regulamentada. A Securitize usa Ethereum para impulsionar o fundo BUILD da BlackRock, o maior produto tokenizado baseado em títulos do Tesouro do mercado.